Há pouco tempo nós falamos aqui sobre complexos. Se você tiver perdido essa nossa conversa, confere aqui antes de continuarmos nosso papo de hoje.
Nós descobrimos que, dentro de um complexo, quanto mais você se questiona, mais você o alimenta, e mais se afasta da sensação de felicidade.
Certo, mas o que fazer para se livrar dos complexos?!
Vamos lá! Trabalhar um complexo consiste dividi-lo em três etapas.
A primeira etapa é RECONHECER o complexo. Complexo não é, necessariamente, uma coisa grande e forte, como um trauma. Nós podemos ter complexos gigantes, mas também podemos ter complexos “aparentemente” pequenos. A marca registrada dele é que a gente fica andando em círculos. E mesmo os “pequenos” podem drenar bastante energia.
Na etapa um, o que você precisa fazer? “Achar o complexo.” É muito fácil: se você ficar à toa, pensando na vida, em algum momento vai começar a pensar no seu complexo. “Será que estou feliz no meu casamento? Será que vou ter um filho tão bonito como o da Fulana? Será que vou ter o emprego dos meus sonhos?” Será, será, será?
Se não for um “será, será, será?”, então vai ser um “o que faço, o que faço, o que faço?” Porque o complexo traz uma dúvida, mas também te faz ficar caçando pelo em ovo. A sensação de empacamento é muito grande.
Vou repetir: quando você entra no complexo, não consegue tomar decisão.
E então vem a etapa dois. Depois de reconhecer o complexo, quando você perceber que está em um, você começa a gritar bem alto: “Socorro, complexo, socorro!”
Certo, talvez você não precise gritar tão alto, mas saiba que é um complexo, para não levar muito a sério as bobagens que ele fala. NÃO O ALIMENTE, não dê corda, percebe? Senão a gente vai energizando o complexo.
É isso o que as pessoas falam quando dizem “não fique reclamando sem parar”. Quando você vê uma pessoa reclamando sem parar, ela está em um complexo, percebe? Ela não vê saída.
Vou dar um exemplo: de vez em quando vai uma senhora lá em casa me ajudar com a limpeza. Ela é nota mil, uma fofa, super alto astral. Mas… ela não suporta o genro dela. E quando ela desanda a falar do genro, ela não consegue parar. Porque ele é um imprestável, porque a filha merece coisa melhor, e ela não consegue entender, porque ela criou a filha para ser independente, e não para ficar cuidando de homem, etc etc etc.
A gente vê a mudança na pessoa. A fisionomia fica carregada. Ela fica aflita, porque não consegue resolver (afinal, evidentemente, a decisão do casamento pertence à filha, e não a ela). Ela fica triste, dá vontade de pegar no colo.
E aí, a minha funcionária que cuida da Sassá, e que fica comigo todo dia, um dia cansou e disse: “Mas talvez esse seja um problema seu. A sua filha pode não querer ser independente, e pode estar bem satisfeita com esse arranjo.”
Foi um comentário simples, mas que virou uma chavinha nela. Porque o complexo não é um problema externo. Tentar resolvê-lo externamente nunca dá certo.
Por exemplo, você quer fazer uma transição de carreira e não consegue. Mas é uma transição de carreira mesmo que você quer? Ou você quer uma transição de você mesmo? Está cansado de ser quem é? E aí você pode estar gastando energia no lugar errado.
Por isso que não dá para dar muita bola para as bobagens que o complexo fala. Porque ele só vai te falar de coisas externas, e não é por aí. É algo interno, que está sendo negligenciado.
Voltando pro caso da senhora, isso rendeu uma ótima conversa com ela. Eu perguntei: “Mas por que tanta dor?” E ela: “Eu trabalhei que nem uma louca para poder pagar uma faculdade para a minha filha. Eu não pude estudar, não tive isso. E aí essa bocó me larga a faculdade para cuidar de homem? Que ódio!”
Então eu perguntei para ela, bem na simplicidade: “E você, tem vontade de estudar? Sua filha, pelo visto, nesse momento não quer. Mas e você? Se você quiser, podemos dar um jeito nisso juntas.”
Ou seja, a saída do complexo está em algo interno, que não tem nada a ver com o drama externo. O insight que nos tira do complexo não é simples. Eu dei esse exemplo ultra-simplificado, só para vocês terem uma referência. Mas não é simples.
Porém eu vou dormir feliz se vocês ao menos não ficarem alimentando esses complexos. A energia deles é muito negativa, e nós definhamos quando estamos sob a influência deles.
Tudo certo até agora?
Só para recapitular: primeira etapa, reconhecer; segunda etapa, não alimentar.
Porque o complexo não é racional. Se você ficar matutando sobre ele, só alimenta o bixim. Você já ficou esgotado depois de ficar fosforilando sobre um problema pessoal? Além de não resolver, claro!
A partir daí, eu tenho uma pergunta para você: você já tentou tirar nó de cabelo, especialmente um cabelo enrolado?
Um complexo é exatamente assim. Eu, com cabelos cacheados, conheço bem essa treta. Você precisa desmembrar o nó grande em vários nós menores. E aí, em outros cada vez menores. Até que o nó fique pequenino o bastante para desembaraçar. Se você “ajuntar” tudo, fica um nó gigante e é impossível.
Essa é a terceira etapa para lidarmos com os complexos: como se trabalha um complexo? Do mesmo jeito, SEPARANDO, fazendo nós menores. Um complexo bem pequeno, como um nó de cabelo pequeno, é fácil de lidar. Só percebê-lo em ação já resolve. Vou dar um exemplo meu para ilustrar.
Tempos atrás, eu fui numa festa (isso foi antes da Sarah nascer). Lá, encontrei um cara que eu reconheci, eu tinha estudado com ele no colégio. Pois bem, no meio da roda, eu me apresentei e falei que tinha estudado com ele. E o cara não se lembrava de mim de jeito nenhum. Quando chegamos em casa, eu caí aos prantos. E o Gabriel sem entender nada. Eu: “Está vendo? Eu era uma criança invisível! Uma criança surda, o ser estudou comigo 3 anos e nem se recorda da minha existência!”
Ou seja, aquele comentário inócuo ativou todo um complexo de rejeição, que até então estava quietinho. Vieram mil lembranças, todas referentes à rejeição. E aí a mágoa foi “crescendo”.
Esse é o complexo. Ele tem uma série de sombras (nossas crenças de inferioridade), junto com as lembranças e experiências de vida. O complexo tem uma energia própria. Você entra nele, e só consegue sentir pena de si, e reclamar.
Qual seria o processo aqui? Ele aconteceu naturalmente, afinal era um complexo pequeno. Mas se eu soubesse isso que eu falo para você, teria sido bem mais fácil.
Pois bem, lembra que não podemos racionalizar um complexo? (Existe uma explicação neurológica para isso, que eu posso falar em outro momento.) Então, no complexo, precisamos ir para um sentimento. No meu caso, o sentimento de rejeição. Basicamente, eu tenho que achar a sombra que está dentro do complexo.
Essa é a diferença básica entre sombra e complexo. Sombra é o sentimento somado à crença (sou inútil, inferior, feio etc). Complexo é tudo o que se cria ao redor desse sentimento. Mágoas, lembranças etc. Por isso o “filminho na cabeça”.
Usando novamente o exemplo da transição de carreira: você está com medo de fazer a transição, porque sua experiência anterior de se arriscar profissionalmente deu muito errado. Mesmo que sejam outras circunstâncias, você continua preso no complexo.
Resumindo muito o trabalho: você precisa pegar o NÚCLEO do complexo, o sentimento de inferioridade. E contrapor esse sentimento de inferioridade ao oposto: o seu sabre de luz, o sentimento de conexão. Que você é um ser espiritual nesse mundo. Ou seja, a sua luz.
E aí você vai desenrolando. “Bom, por mais que eu tenha me sentido inferior, vim para esse mundo para muito mais do que alguém se lembrar de mim ou não na escola. Vim para uma aventura, para descobrir coisas secretas minhas.” É a nossa natureza espiritual (o superior) que vence o complexo (o inferior).
Olhando fora do complexo, me pareceu muito mais que o garoto tivesse um déficit de atenção, ou fosse só desligado mesmo. Já percebeu que dentro do complexo tudo é sobre nós? Tente conversar com uma pessoa num complexo. O que você falar, ela se ofende. Tudo é sobre ela.
Dentro do complexo, tudo é sobre nós.
Eu sei que estou simplificando algo absurdamente complexo. Mas ter o caminho das pedras torna infinitamente mais fácil do que não ter.
1 comentário em “Como lidar com complexos?”
adorei, vai me facilitar muito.
Principalmente na minha relação com meu filho ,que anda despertando e ativando meus complexos.
Obrigada