Quando começo a falar sobre reino intermediário, muita gente diz que não entende, que não sabe o que é isso. Para a gente desvendar de uma vez por todas esse mistério, vou fazer uma analogia bem besta, tá?
Pensa que até então você estava tentando fazer bolo sem conhecer o leite e o trigo. Assim que você “descobre” esses ingredientes, fica BEM mais fácil.
Grosso modo, existem duas dimensões de realidade. Uma, são as coisas práticas. Concretas. Materiais. A cama na qual eu estou deitada, os boletos que eu tenho que pagar, o aquecimento global e a minha alergia de pele.
A outra dimensão da realidade é o que se passa na nossa cabeça: são nossos pensamentos, sentimentos, neuras e tudo o mais. Minha preocupação com os boletos, meus pensamentos se o boy vai me ligar ou não e minha convicção que a vizinha da frente é uma chata.
Até aí, ok, né? De um lado, as coisas reais e práticas. Do outro, o mundo da nossa cabeça.
Só que o que Jung diz? Que está faltando levar em conta uma terceira dimensão, um terceiro reino. Que ele chama de “reino da alma”.
Na verdade, a existência desse terceiro reino sempre foi levada em conta. Mas isso mudou no concílio de bispos da Santa Igreja Católica, na cidade de Constantinopla. Daí os bispos decidiram que teríamos só dois reinos: corpo e mente. Ponto e fim. Veio o Iluminismo, veio Descartes, e essa divisão ficou ainda mais forte. Mente e corpo.
Só que…
Isso não explica algumas coisas estranhas.
Por exemplo, por que quando eu estou estressada, tenho candidíase? Ou alergia de pele? Parece que os meus sentimentos e o meu corpo se comunicam de alguma forma! Ou, por que quando estou angustiada, compenso na comida? Ou gasto um dinheiro que não tenho?
Se as coisas práticas (exemplo: comida) não têm nada a ver com as minhas coisas mentais (como a minha angústia, a minha insegurança, etc), por que eu compenso uma coisa na outra? Por que eu estou misturando tudo? Por que eu sinto um vazio que não sei explicar? Como se sempre me faltasse algo?
Jung diz que é porque quando nos tiraram o reino da alma, o reino do nosso interior, é como se ficássemos mutilados. Falta um pedaço. Esse “pedaço” que falta, Jung chamou de reino intermediário. Todos nós já vivenciamos esse reino. Só que não sabemos o nome. Quer ver?
Já te aconteceu de, num momento aleatório, tomando um café, viajando, lendo um livro… Você sentir um quentinho delicioso no coração? Aí é que tá, as experiências do reino intermediário nós SENTIMOS.
Você entra num ambiente, e sente que aquilo é pesado, carregado. Parece que a sua energia vai embora. Alguém começa a reclamar da vida para você, e você SENTE um aperto, uma “gastura”. Não é exatamente algo que você pensa. É algo que você SENTE. Não é racional. É outra coisa.
Essa outra coisa é o reino intermediário.
TODOS nós já tivemos isso em algum momento. Racionalmente está tudo ok. Mas a sensação sobre tal coisa/pessoa/lugar é ruim. Em relacionamentos isso é muito forte. O vínculo com tal pessoal parece drenar sua energia. Mas você não sabe o porquê.
Vejam que rolo. Como nós não aprendemos sobre esse reino na escola, não sabemos o que essas sensações significam. Vivemos numa ignorância total sobre uma das coisas mais importantes sobre nós mesmos. Por isso a gente se ferra tanto.
Esse reino intermediário conversa com o mundo material. E TAMBÉM com o nosso mundo mental. Ele conversa com a nossa vida prática.
Os antigos viviam o reino intermediário. Um xamã, quando mistura unguentos com orações, está fazendo o quê? Acessando o reino intermediário, e efetuando a cura através dele.
Alma, em latim, é anima, animar. Quando dizemos que estamos desanimados, queremos dizer que estamos “sem alma”. A nossa energia vital, nossa animação, nossa alegria de viver, aquele quentinho gostoso no coração que surge… Não é material, e também não é mental. É desse terceiro reino. E a falta de entender e trabalhar esse reino é que nos deixa tão fracos e desanimados.
Eu fiz esse teste, sabe? Falo sobre energia, energia vital, com todos os tipos de pessoas que encontro. Desde o acadêmico cético com óculos de lentes grossas, até a mãe de cinco filhos. E TODO MUNDO ENTENDE. Até agora não encontrei uma única pessoa que intuitivamente não entendesse o conceito de “minha energia vital”, de “meu nível de energia”, de “minha energia”. Mesmo que NUNCA tenhamos tido uma disciplina na escola chamada “nossa energia”.
A gente SABE dizer se a nossa energia está boa ou ruim. Se estamos desvitalizados ou revigorados. Ou no meio termo.
Tá, mas como a gente sabe? Da onde tiramos essa informação?
Essa percepção de “energia”, de “sensações”, de quentinho no coração ou de ter um buraco que nada preenche, ISSO é reino intermediário.