O que são complexos?

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Vez ou outra os alunos sentem dificuldade de identificar a diferença entre complexos e sombras. Vou tentar explicar esse conceito começando com uma pergunta que uma seguidora me fez uma vez:

“Se nossas decisões são emocionais, por que afirmam que você não é suas emoções?”

Essa frase faz uma baita confusão com vários conceitos diferentes. Primeira coisa: o que o autor da frase está se referindo quando fala “emoções”? Provavelmente será o equivalente ao que Jung chama de complexos.

Uma coisa são emoções: raiva, paixão, insegurança, desespero etc. Mas essa frase não deve estar falando disso. E sim de complexos. Ou seja, ser tomado por um complexo de insegurança, por exemplo. Você estava sendo você mesma até uma hora atrás, mas quando o chefe te chamou para a sala dele para ver um projeto seu que deu caca…

Aí você foi tomada por um complexo! Em que a emoção dominante é a de insegurança. E aí você fica meio gaga, atrapalhada, as ideias somem.

Como saber que há um complexo em ação? Porque o teor emocional dele é altíssimo! Você praticamente não é mais você. Aquela pessoa calma, sensata, tranquila… Cadê? Uma crise de ciúmes, a mesma coisa. Quando o pavio estoura, a mesma coisa.

Daí a pessoa chega toda acanhada depois “Ah, desculpa, falei sem pensar.” Quem falou, então? O complexo! Faz diferença definir se “foi a emoção” ou se “foi o complexo”?

Faz toda a diferença! Falar “emoções” gera muita confusão. Como se as emoções só agissem para te dominar. E que, portanto, o estado ideal é estar sem emoções. Primeiro, isso é impossível. Segundo, tentar alcançar isso é péssimo. E aqui vai o macete: você pode perfeitamente sentir uma emoção… sem estar dominado por um complexo.

Você pode sentir raiva. Justificada. Pode questionar o outro por isso e isso. E continuar sendo você mesma, com sua cabeça no lugar, questionando com a energia interna “alta”. Você sai inteira. Porém, quando somos tomados por um complexo, a energia cai. É uma versão “inferior” nossa. Ele nos consome total, saímos exaustos.

Outra coisa: o complexo tem a emoção (Jung chamou de valência emocional), mas não só isso. Há crenças, lembranças ruins. Você vê o chefe gritando, e já se lembra do seu pai gritando. Há um emaranhado mega confuso de tudo um pouco.

Aí sim, voltando à pergunta do começo, nós poderíamos dizer: “Opa! Você não é seus complexos!” Para te lembrar de sair deles, e não deixar que eles te dominem.

E então você descobre que pode sentir essas emoções e “deixar elas passarem” por você, sem se identificar com elas. Isso é aprender a lidar com o complexo, sem ser tomada por ele. Esse processo não tem nada a ver com “reprimir emoções”, até porque reprimi-las só nos enfraquece, gastamos muita energia a troco de nada.

Outra coisa que acontece quando entramos no complexo é que nós não conseguimos tomar uma decisão. Eu chamo complexos de “nós energéticos” da vida, e dentro deles não conseguimos tomar decisões, não sabemos o que fazer e podemos passar ANOS empacados.

Essa é a armadilha do complexo: ele te faz presumir que você precisa “resolver a questão” para que ele possa desaparecer. Ou seja, que você precisa pensar repetidamente no assunto, sob várias nuances, e ficar conversando consigo mesma repetidamente, se questionando sem parar. Como se, no meio da fosforilação, você pudesse encontrar a saída. E aí, com isso, você só entra ainda mais no complexo.

Não conseguir se decidir, por exemplo, se você sai de um emprego ou fica, pode ser um complexo. Você pode ficar anos nessa, não decide nada. E não vê a vida passar, não percebe o tempo passar. Quanto mais você pensa naquilo, mais você fortalece o complexo. Mais indeciso fica, mais enfraquecido fica. Gasta-se um tempo e uma energia imensos naquilo. E isso é muito sério!

Por isso que os complexos são apropriadamente associados a buracos negros. Dentro do complexo, racionalmente não há saída. Dentro de um complexo, não há plenitude nem felicidade.

A mente racional não sabe lidar com os complexos. Você pode levar eles pra terapia, ficar um ano falando deles, e não mudar nada! A saída do complexo é simbólica.

O que fazer, então? Um segredo para começarmos a trabalhar o complexo é defini-lo da forma mais sucinta possível. Isso nos ajuda a alcançar o que Jung chamou de “núcleo do complexo”. Mas isso já é assunto para uma outra conversa.

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