Em todos os nossos cursos que a gente vem fazendo até agora, tem uma pergunta que aparece sempre:
“Esse tal de inconsciente, Fran, que você trabalha tanto, que você fala tanto, afinal de contas, o que é isso exatamente?”
O que nós queremos olhar aqui? Primeira coisa: esse papo de inconsciente não é algo que a gente começa a trabalhar ou a tentar entender porque quer. “Ah, dá licença, vou deixar aqui meus boletos de lado, o cuidado com meus filhos, as minhas demandas amorosas, para entender o inconsciente.” A gente acaba fazendo essa relação como se estudar isso fosse uma espécie de fuga da realidade.
Não! O que eu aprendi é que estudar o inconsciente é uma coisa extremamente prática. O negócio é prático. Eu até diria que hoje em dia é praticamente uma questão de sobrevivência nós entendermos esse tal de inconsciente.
Eu também comecei a estudar, a trabalhar em cima desse material depois de uma vivência pessoal, porque eu entrei em um burnout. Eu não conseguia trabalhar, não conseguia produzir, não conseguia nada. E aí eu tive que ir atrás das razões pelas quais eu estava tão adoecida.
Então vamos lá. É mais fácil se nós olharmos dessa forma: você tem a sua vida, certo? A sua vida, em todos os setores dela, tem pontos, tem lugares em que você emperra, que você não consegue avançar. Pode ser, por exemplo, que você tenha um problema de saúde, e o médico fala para você: “Fulano/a, você tem que perder peso.” Você quer, você precisa, você está determinado a isso. Só que na prática não vai, não acontece. Você fica se sabotando. “Sabotar” é uma palavra que já dá a entender que tem alguma força dentro de você que está atuando contra aquilo.
Um outro exemplo: você quer crescer na vida profissional. Só que para isso você precisa se expor mais, falar mais na rede social, falar na reunião, falar em público, falar com o seu cliente. E cadê a coragem, a desenvoltura para falar? Não consegue, bloqueia. Você está emperrado, talvez, há um bom tempo naquilo.
Ou então é o departamento amoroso que não flui. Você está sempre encontrando pessoas, por exemplo, emocionalmente indisponíveis para você. O que nós temos aqui? Mais um padrão, mais um bloqueio, mais uma limitação.
Todas as limitações, grandes, pequenas, enormes, que nós encontramos na nossa vida, tudo o que nós tentamos mudar e não conseguimos, tem um nome.
Inconsciente.
Agora vem o ponto principal. Ninguém começa a ir atrás de entender o inconsciente porque quer: “Ah, não tenho mais nada para fazer da vida.” Não. A gente vai porque precisa. Só começa de fato a respeitar o inconsciente quem já levou chapuletada dele. Se você está aqui, você sabe do que eu estou falando.
E aí nós começamos a entender algumas coisas. A primeira delas é que nós não aprendemos sobre isso. Nós crescemos lá na escola e aprendemos matemática, ciência. Só que aquela matéria que é sobre nós, que deveria estar lá desde a 3ª série, não está.
Quem nós somos, como nós funcionamos, como é a estrutura do nosso inconsciente, como ele fala conosco, como que nós lidamos com os nossos medos, como que nós descobrimos o que queremos… Tudo isso aí é definidor da vida. A gente por acaso aprende essas coisas na escola? Não aprende. Então acaba aprendendo só na marra mesmo. E é por isso que o nosso primeiro contato com o inconsciente acaba sendo através de um problema.
Não é para ser obrigatoriamente assim. Nem precisa ser assim. Só que para nós, que não temos essa consciência e vamos tocando a vida automaticamente, precisa ter um problema. Porque é a única forma do inconsciente falar: “Pare. Olhe para si mesmo. Entenda o que realmente está acontecendo nessa situação.”
Então, vamos entrar um pouco mais na questão da definição. O que é exatamente o inconsciente? Jung coloca uma coisa muito simples. Temos o consciente de um lado, e do outro lado o inconsciente.
Consciente é basicamente tudo o que você percebe. O seu endereço, o seu nome, o nome da sua vizinha… São essas coisas que você consegue definir, que você sabe. Isso faz parte do seu consciente. O seu inconsciente, por outro lado, é tudo o que você não sabe, que você não percebe diretamente. Ou seja, o que você sabe é a pontinha, o pedacinho, de toda a imensidão daquilo sobre você que você não sabe.
Então tá, esse é o inconsciente. Agora Jung dá um passo além na definição. Ele fala que existem camadas nesse inconsciente (em breve nós vamos falar mais detalhadamente dessas camadas). O que nós queremos aqui é perceber que existem duas principais.
A primeira camada é o que nós chamamos de inconsciente pessoal. O que Freud chama de inconsciente é exatamente essa camada que Jung chama de inconsciente pessoal. A diferença da teoria dos dois está aqui. Porque para Jung o inconsciente tem mais camadas além dessa fininha que é o pessoal.
O que é o teu inconsciente pessoal? São coisas que no fundo você sabe, só que você não quer olhar. São coisas que você não quer trabalhar, é aquela sujeira do nosso porão que, se nós tivéssemos um pouquinho mais de “bom comportamento”, vamos colocar assim, nós arrumaríamos tudo.
Jung coloca assim: o inconsciente pessoal só existe por “preguiça” nossa. Então, por exemplo, você leva um pé na bunda do Fulano de tal. E aí você fala: “Quer saber? Não estou nem aí, não ligo, não me importo. Sou uma pessoa independente. Esse cara sumiu da minha vida, agora não quero nem saber.” Mas existe lá atrás, lá no seu cantinho, uma parte que ficou magoada, que ficou sentida, que sente falta. Não é difícil reconhecer que está lá, é só ter um pouquinho de honestidade e olhar pro lado.
Isso é inconsciente pessoal. São essas dores, são essas mágoas da vida que vão se acumulando. E que uma hora aquilo vira muito material, começa a emperrar tua vida, e você vai ter que lidar com aquilo.
Mas existe uma outra camada, bem maior, que Jung chama de inconsciente coletivo.
O que é o inconsciente coletivo? Ele fala que o inconsciente coletivo não é o que está na nossa cabeça. Ele é um campo. Nós é que estamos dentro dele. Eu, você, a tua mãe, a tua vizinha, esse cara que te deu o fora, estamos todos conectados a esse inconsciente coletivo. E esse inconsciente coletivo tem forças, chamadas de arquétipos.
Arquétipos são forças, é a melhor forma de tentar entender. Eles são dinâmicas.
Então, por exemplo, talvez você já tenha ouvido falar numa dessas forças mais conhecidas, que é o arquétipo do herói. E o que é isso? Quando você está no cinema, e está assistindo a um filme de herói, o herói é o quê? É aquela força que nos faz enfrentar as dificuldades da vida, que nos faz respirar fundo, arregaçar as mangas, puxar dentro de nós uma coragem que nós não sabíamos que tínhamos.
Está cheio de heróis no cinema, está cheio de heróis nos livros. E aí você assiste ao filme e fica inspirado: “É disso que eu preciso, dessa força, dessa determinação. Está na hora de dar uma boa arrumada na minha vida. Agora eu vou encarar esse desafio e fazer a transição de vida que estou precisando.”
Você sentiu o quê? Um arquétipo do inconsciente coletivo. Se você fala uma história de herói, por exemplo, Homem-Aranha, Batman, Super-Homem, Harry Potter, Guerra nas Estrelas… todo mundo entende. Por quê? Porque todo mundo se conecta com esse material do inconsciente.
Eu estou falando e eu tenho certeza que você está entendendo o que é essa força de enfrentar os desafios. Mas na sua vida ela vai aparecer de uma forma muito sua, na minha vida vai aparecer de uma forma muito minha.
A pegada aqui é entender essa dinâmica, como ela funciona, o que faz com que essa dinâmica não possa influenciar a sua vida, os aspectos negativos. Esse conhecimento, que é determinante, e que nós deveríamos ter desde o ensino fundamental, é o que nós vamos começar a ter agora. Então seja bem-vindo à maior das aventuras!