Sabe aqueles dias em que bate uma preguiça inexplicável? Você tem um monte de coisas para fazer, tarefas a cumprir, mas a procrastinação atinge seu máximo? Aquela coisa assim: “Ai meu Deus do céu, estou procrastinando! Preciso entregar um trabalho e não consigo.” Ou então: “Preciso entregar um TCC, ou um doutorado, estudar para um concurso…”
Sempre que nós temos alguma coisa para fazer e não conseguimos render de acordo com a expectativa, quando a gente empaca totalmente, ou anda de uma forma inacreditavelmente lenta, encare a preguiça inexplicável e a procrastinação como um “Houston, temos um problema”. O grande desafio está em achar onde está esse problema.
Se fôssemos resumir de uma forma bem simplista, seria:
- Ou sua energia está sendo desperdiçada em um projeto inútil que vai dar em nada;
- Ou sua atitude está inadequada.
O que precisamos ter claro é que a preguiça NUNCA É O PROBLEMA. Apenas a consequência. E como saber qual é o problema? Aí teríamos que olhar o seu material interno.
A procrastinação acontece quando você coloca muita energia em um caminho que o seu inconsciente considera inútil.
Aí você me fala: “Mas, Fran, eu estou estudando para um concurso super importante e estou super empacada. Então significa que o inconsciente acha que eu não devo fazer esse concurso?” Não necessariamente.
Nós não estamos falando, necessariamente, do destino final, por exemplo, o concurso. Pode ser que o concurso seja uma boa. Só que o seu inconsciente está te falando que o caminho que você escolheu para chegar na aprovação desse concurso é o pior. E provavelmente existem muitas outras rotas, através de outras atitudes, de outras formas de se estudar, de aprender, que são bem melhores. Procrastinação é só uma sinalização. Não é problema de nada.
“Tá, Fran, mas o que eu faço?” A primeira coisa é você olhar se essa procrastinação não é porque você está batendo de frente com o complexo. (Não sabe o que é complexo? Confere aqui o que a gente já falou sobre ele. E também como lidar com o complexo.)
Aquela coisa de: “Meu Deus, eu não sei nada. Eu preciso estudar muito.” Ou ainda: “Eu preciso fazer uma apresentação e eu preciso entregar muito.” Nessas horas, minha dica é procurar por sombras de perfeccionismo, sombras de autoexigência, sombras de “tenho que dar conta de tudo”.
A partir daí você pode partir pro segundo passo. Se você perceber que você empacou, a minha sugestão é você simplesmente voltar do começo.
Se você empacou num livro, começa do começo. Se você está escrevendo e empacou, mas empacou de vez no TCC, por exemplo, eu sei que o que eu vou dizer pode parecer contraintuitivo, mas rasga e recomeça. Você vai ver como vai ser incrivelmente mais rápido e mais fácil. Recomeça.
Nessas horas vale aquela famosa frase: o feito é melhor que o perfeito. Quando nós queremos as coisas muito perfeitas, a tendência geral é que nós estejamos com um sentimento de falta. E que aquilo tem que estar perfeito para compensar o nosso sentimento de insegurança. São as sombras em ação.
Uma vez uma seguidora me contou que perdeu o prazo para aplicação no mestrado por quatro minutos, porque procrastinou até o último momento. Se a gente for pensar nos contos de fada, esse é o conto da Bela Adormecida. Afinal, ela “dorme” no ponto.
E o que o conto nos diz? Os pais têm uma linda criança, e resolvem dar uma festa para ela, mas não convidam a bruxa má. Ou seja, deixam a sombra de fora.
O conto pode ser vivido de uma forma concreta quando somos criados por pais superprotetores, que não nos ensinam sobre as sombras da vida. Mas, claro, nem precisamos de pais superprotetores de fato. Apenas uma combinaçãozinha básica de ansiedade com ignorância é o suficiente. Crescemos sem ser expostos ao conhecimento sobre a sombra e como ela age.
Voltando ao conto, na cerimônia do batismo, a bruxa não é convidada. Essa é a parte principal da história. Como a dona Fran fala, “se você não convidar a sombra para tomar um café, ela vai puxar o seu pé.”
A sombra, nesse caso da Bela, é a face do perfeccionismo. Ela é linda, fofa, querida, jamais vai expressar algo “feio”, como, por exemplo, não querer fazer algo. É tudo tão perfeito que a sombra não tem lugar.
Ou então você pode viver esse conto de uma forma mais simbólica. Seus pais fizeram o que podiam (ou não), e mesmo assim você insiste em recriar uma vida perfeita.
Você pode até enrolar sua sombra, mas não na roca de fiar. A roca de fiar é quando você tece a sua vida, quando você toma decisões. Se você não quis “olhar” sua sombra até agora, ela vai aparecer justamente nessa hora.
No caso da seguidora, o prazo para o mestrado foi a roca de fiar. A sombra surgiu, a “maldição” surtiu efeito. Mas esse problema não é de quatro minutos atrás. E sim de muito mais tempo. Essa é a segunda parte do conto: precisa ser assim. É com esse “Ai meu Deus!” que as coisas acontecem, e a evolução vai para a frente.
De uma forma geral, essas sombras não são difíceis de achar: você acha que dá conta? O que te faz pensar que não daria? Quais são as suas expectativas? E, a mais importante: você estaria fazendo isso para provar exatamente o quê?
A procrastinação não é negativa em si. É apenas uma forma do inconsciente te mostrar: “Bom, primeiro resolva isso aí. Senão você não vai conseguir progredir nesse caminho.”
Então converse com suas sombras, estabeleça prioridades, faça cortes energéticos que geram mais tempo.
Moral do conto: é melhor convidar a sombra para fazer parte da festa. Poupa muito, muito perrengue.
1 comentário em “O segredo para vencer a procrastinação”
Fran você sempre acerta em cheio.. em cheio. Obrigada!
Ahhh não sei quem anda escolhendo os títulos dos textos, mas está mandando muito bem =)