Carregando o mundo nas costas? O que podemos aprender com Hércules para evitar o peso da sobrecarga

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Você já sentiu que carregava o mundo nas costas em algum momento da vida? Aquele sentimento de que precisa dar conta de tudo, assumir novos compromissos mesmo quando não há condições de fazê-lo, dificuldade em dizer “não”?

Nesses momentos, quando a alma cala, o corpo fala, e você pode começar a sentir dor nas costas, dores nas escápulas.

E o que significa sentir dores nas escápulas? Na verdade, essa não é tão difícil. Qual é o papel dessa musculatura? Manter a cabeça ereta, acima do pescoço.

Veja que essa é uma musculatura delgada, com poucas fibras musculares. Esses não são músculos de força. São de equilíbrio.

E onde estão os nossos músculos de força? Nos membros inferiores. Glúteos, coxas. Eles são incrivelmente fortes (e pouco usados, muito menos usados do que deveriam ser).

Enquanto isso, teimamos em sobrecarregar um póbi músculo pequenininho, que mal dá conta e se machuca todo. Você não precisa “forçar” as coisas, precisa ser equilibrado.

Quando nós nos sentimos “carregando o mundo nas costas”, automaticamente tensionamos a escápula. Tentando fazer na base da força o que deveria ser conduzido com equilíbrio.

Ao ver imagens do mito do titã Atlas carregando o mundo, onde está apoiado o mundo? Nas escápulas, é claro.

Aliás, para entender as dores nas escápulas, precisamos conhecer a treta entre Atlas e Hércules. Você conhece essa história?

(Em tempo: provavelmente existem muitas informações dentro de informações nessa história de Atlas. Outro parênteses: a nossa primeira vértebra cervical se chama Atlas, em referência a esse mito.)

Ah, uma curiosidade: Atlas também significa, em grego, Atlante. Ele teve sete filhas, chamadas Plêiades. Os Pilares de Atlas (que estão abaixo do nível do mar, supostamente em algum lugar no Estreito de Gibraltar) seriam a entrada para Atlântida, e Atlas teria sido seu primeiro rei e eterno guardião.

Opa, Plêiades, Atlântida? Isso está ficando interessante!

E onde entra a treta entre Atlas e Hércules nessa história toda?

Bom, você deve lembrar que um dos doze trabalhos de Hércules era colher os pomos de ouro do jardim das Hespérides. Ora, não é preciso muito para percebermos que as Hespérides são a inspiração para o paraíso cristão. Árvores, maçãs e tal.

Pois bem, acontece que Hércules não podia colher as tais maçãs de ouro. Nessa hora, Athena sussurrou no seu ouvido um conhecimento secreto: o único que poderia entrar no jardim e colher os pomos era Atlas. Atlas era o pai das Hespérides, e estava naquele reino.

Então Hércules propôs a Atlas que ele fosse ir lá colher as maçãs, enquanto ele substituiria o titã no seu trabalho e seguraria o mundo um pouquinho.

Veja aqui, Hércules é a nossa faceta heróica, que está em missão. Queremos a maçã, a recompensa da prosperidade. Mas, para isso, precisamos arcar com responsabilidades, carregar fardos, carregar o mundo.

A gente acha que esse “carregar o mundo” é temporário, logo logo virá a recompensa. Ledo engano.

Atlas voltou todo feliz, cheio das maçãs, viu Hércules segurando a abóbada celeste, suando em bicas, e disse: “Quer saber? Fique você aí. Eu vou sair livre pelo mundo com as minhas maçãs.”

Ainda bem que Hércules foi rápido. Não ia ficar naquele papel que não era dele, de carregar um peso muito maior do que ele. E enquanto segurava, não poderia seguir atrás do seu fluxo da prosperidade e ampliação de consciência – as maçãs.

Capisce, você que carrega fardo de todo tipo nos ombros?

Hércules disse a Atlas para “segurar só um pouquinho”, enquanto ele guardaria as maçãs.

A essa altura, a gente não acredita que o bobo do Atlas cairia nessa. Pois ele caiu. Atlas volta ao seu cargo de “segurador do mundo” e Hércules fica livre (e com as maçãs).

Depois disso, são instaurados os Pilares, e Atlas é o guardião. Veja que em termos de história isso não faz sentido nenhum. Isso é porque temos um material simbólico mais profundo em ação.

Atlas é uma força titânica. É uma força primordial, muito diferente da natureza humana. São as forças de causa e efeito que dão estrutura ao mundo.

Quando nós seguramos, um pouco que seja, esse fardo imenso, de aliviar o outro da consequência de suas próprias ações, estamos no lugar errado. Ficamos presos, e não conseguimos cumprir nossa própria missão, nem elevar a nossa consciência.

Mesmo assim, esse é um erro “esperado”. Que faz parte da nossa evolução. Todos nós já assumimos fardos gigantescos, querendo dar conta de tudo. Todos nós já fomos Hércules, substituindo Atlas. Quando estamos nessa fase do mito, as escápulas DOEM.

A questão é que não podemos nos demorar aí. Devemos devolver o fardo ao legítimo dono delas, as forças cósmicas.

Ao fazermos isso, o nível de consciência muda. Conseguimos as tais maçãs! Não é a gente que vai buscar a prosperidade. Ela vem até nós, com a nossa evolução de consciência, quando damos esse passo de: “Toma, mundo, esse peso não é meu para carregar”.

Com isso, o próprio mundo muda. Atlas se torna livre. E, no lugar dele, ficam as estruturas, os Pilares, que sustentam a esfera.

Atlas tornar-se o guardião dos Pilares, ao invés de segurar o planeta, para mim, indica uma evolução da estrutura. Ele não carrega mais o mundo nas costas, e viver deixa de ser algo tão “pesado”.

Mas nessa nova ordem da nossa vida é necessário atenção e vigilância.

Como Jesus dizia, “orai e vigiai”. Sócrates, um bom tempo antes, também: “o exercício da virtude não é senão a eterna vigilância do vício”. Baixar a guarda, jamais. Especialmente quando as coisas estão finalmente dando certo na vida, temos que nos manter atentos para não perder esse fluxo, o nosso flow.

O mito de Hércules é o meu mito e o seu: somos heróis da nossa própria saga.

Os antigos sabiam o que faziam. Perceberam as forças do inconsciente que influenciavam nossas vidas, e as transformaram em histórias. Se essa influência é para o bem ou para o mal, depende do nosso grau de consciência.

Por isso a importância de entendermos os mitos: nossa natureza é simbólica. Fugir ou ignorar esse mundo simbólico só aumenta o poder dele sobre nós. Afinal, como disse Jung, “o que negas te subordina. O que aceitas te transforma”.

E você, está em que fase do mito?

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2 comentários em “Carregando o mundo nas costas? O que podemos aprender com Hércules para evitar o peso da sobrecarga”

  1. Fran, esse é o verdadeiro soltar. É mandar pro universo e aguardar que ele resolva, pois no fim, estávamos exercendo uma função que não era nossa. Obrigada, de coração. Tentei entender isso de todas as formas possíveis mas só lendo seu texto veio a virada de chave. Você é maravilhosa ❤️

  2. O autor deste post merece todos os elogios pelo seu trabalho excepcional em fornecer um conteúdo tão bem elaborado e útil para nós leitores. Agradeço por compartilhar seu conhecimento e experiência de forma tão generosa e acessível.

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