Um tempo atrás me perguntaram no Instagram como tinha sido a minha transição de carreira da medicina (para quem não sabe, sou neurologista e neurofisiologista de formação) para a terapia junguiana, se eu tinha começado a atender aos poucos ou se tinha sido rápido, de uma hora para outra.
Tem o jeito que eu fiz, estabanado, aos trancos e barrancos, e o jeito que eu recomendo que se faça. O que é o ideal (e que eu só descobri depois): fechar tudo de uma vez. Pá!
Quem me inspirou foi o Hillman. Um grande terapeuta junguiano, autor de muitos livros. Ele fechou o consultório mais ou menos na metade da carreira. Virou a chave e nunca mais voltou. A partir dali, ele seria somente escritor.
O próprio Jung teve suas fases. Ficava meses e até anos sem atender ninguém. Ia viajar, ficava longos meses conhecendo outras culturas. Ou ficava criando, escrevendo, ou fazendo nada. Esses antigos terapeutas não tinham a forma de ver a terapia que a gente aprende hoje. Essa coisa de “você tem que fazer isso todo dia até morrer”.
Então, me inspirar nesses exemplos me ajudou a fazer a transição. Eu fiz aos poucos, porque meu senso de responsabilidade com os pacientes era muito grande. Fui avisando os pacientes gradualmente. Só que, por ter feito aos poucos, ficou um processo mais tortuoso e difícil.
Mas isso foi na hora de sair do consultório médico. E como eu comecei?
Aí sim, isso foi aos poucos. Eu deixava um dia da semana para terapia. E mantinha a neurologia nos demais dias. Aí passei a deixar dois dias. E assim foi crescendo. Deixava claro para os pacientes que eram atendimentos diferentes.
Foi muito natural, porque era uma demanda dos próprios pacientes. “Ah, doutora, para mim, conversar contigo está sendo muito importante. Eu poderia vir toda semana, ao invés de todo mês?” Então eu combinava diferente: “Olha, vamos mudar o dia da semana. Vai ser assim e assim”.
Eu comecei aos poucos… E terminei aos poucos. Na teoria: ótimo. Na prática: uma zona.
Agenda de consultório é um drama pronto. É assim mesmo. Ou você tem poucos pacientes e fica comendo mosca, ou você tem tantos que não sabe mais onde encaixar e fica agoniada. O meio-termo de perfeito equilíbrio tão sonhado não existe.
Meu conselho, hoje: quer mudar de área? Avisa todos: “Oi, fulano, agora trabalho assim e assim”. Tenha uma reserva financeira para essa fase de transição (na prática nem vai precisar, é só para você não ficar ansioso mesmo) e mude de um dia para o outro.
Porque assim o universo se reorganiza. Os pacientes se reorganizam. Você se reorganiza. E começa uma nova fase. Quem não está em consonância, sai. Quem estava precisando de você, te encontra.
Quando eu comecei a trabalhar com terapia junguiana, estava preparada para ganhar muito menos do que como médica. Mas eu queria porque queria. Não era por dinheiro, mas por tesão mesmo. Hoje eu percebo que isso se chama “prosperidade”. A terapia junguiana era algo que eu amava (e amo).
O que eu aprendi (e isso vale para qualquer área) é que é preciso se posicionar. Isso implica deixar claro para o mundo o que você quer – e estar pronto para sacrificar o estilo de vida anterior. Esse sacrifício é o famoso ato de fé.
São centenas de pequenos posicionamentos. Não atendo isso. Recuso tal projeto. Declino de tal oferta. Não tolero patati patatá. Coisas minúsculas. E quanto mais você se posiciona, mais a prosperidade vem. Anota.
Quer uma dica de ouro para definir a transição de carreira?
O foco não é a área. “Qual área eu vou?” Não. O foco é o seu posicionamento. Primeira coisa (que é difícil para todos nós, mas é essencial): dar tchau para todo mundo da escassez. Clientes que ficam barganhando, atrasando pagamentos, fazendo mil queixas? Não. Secretária que só reclama? Não. Sócio que não sei o quê? Não, não, não.
Na mudança de carreira, e em todas as mudanças importantes da vida: menos é mais. Você precisa enxugar o povo chato e problemático. A gente morre de dó, eu sei, mas precisa. As pessoas se viram e seguem suas vidas.
Porque, veja, 95% dos problemas vêm de 5% das pessoas.
Lembro de uma paciente que não fazia nada do que eu pedia. Ok. Daí resolveu que não ia pagar as sessões por um tempo. Ok. Daí levou o filho dela, de quatro anos, que praticamente destruiu minha sala de espera (essa foi impagável). Ok. Daí ficou brava porque eu não poderia atendê-la (porque a Sarah, minha filha, nasceu naquela semana). Ok. Daí depois resolveu que não ia pagar mesmo. Quando eu cobrei, disse que ia me processar (!!).
Toda essa montanha de problemas veio de uma única pessoa. O ideal: ter cortado desde o começo.
O que aconteceu no fim das contas? Eu a encaminhei para outra terapeuta, e a paciente exigiu alguém que não tivesse filhos. Fiquei sem o pagamento, resolvi que não queria esse dinheiro. Um ano de calote.
É isso que eu quero que você tenha em mente, de agora em diante: manter a prosperidade dá trabalho. Mas a escassez dá muito mais.
Quando falo em prosperidade, isso vai muito além do dinheiro. Ela se reflete em todas as áreas da vida: nos relacionamentos, na saúde, nas oportunidades, nas realizações.
A prosperidade obedece a Leis específicas que regem o nosso inconsciente. Se você quer que a prosperidade flua na sua vida, é preciso compreender a fundo essas Leis para transformar esses padrões inconscientes.
1 comentário em “Como eu fiz minha transição de carreira (e como você também pode)”
Tenho lido suas postagens, já faz um mês, minha vida tem feito movimentos incríveis, impressionante como eu tenho o menor trabalho, depois que aprendi quem sou, qual o eu valor e a selecionar quem me merece.
Sou extremamente grata ao universo por fazer com nós duas nos esbarrássemos na trama da vida.
Desde mto nova tenho a certeza de que aos 40 minha vida será diferente, esse ano farei 40. Essa mudança já começou. Gratidão!