Quando falo de bruxaria no Instagram é aquele negócio: uns amam, outros odeiam ou têm medo (ah, tem ainda os que amam e também têm medo!).
Você tem vontade de se tornar uma bruxa moderna? Dessas bem poderosas? (PS: eu quero!) Então vou fazer uma analogia aqui. Vai ser poderoso, então senta na cadeirinha e vamos lá.
Afinal de contas, o que é bruxaria?
A bruxaria, mitologicamente falando, tem duas origens: o arquétipo do Mago/Hierofante (“Magia Maior”) e o arquétipo da benzedeira/curandeira (“Magia Menor”).
A “Magia Maior” são os aspectos mentais da transformação do Eu e da realidade.
Era considerado magia maior ou major por envolver apenas o uso da mente. Foi o material principal das Antigas Escolas de Mistérios. Seu pressuposto era disciplinar a mente para se tornar uma ferramenta, uma poderosa arma.
De certa forma, a Magia Major sempre esteve inacessível ao grande público. Podemos encontrar uma forma degenerada desses princípios no coaching, por exemplo.
A Magia Menor, ou minor, se refere ao uso de ervas, amuletos e outros objetos. Da prática da Magia Minor, surgiu a medicina moderna.
Se formos ver, muitos dos temas que falamos aqui, e que são temas ABSURDAMENTE relevantes hoje em dia, são temas de Magia Major.
Ou seja, está havendo um renascimento da Magia Major, depois de um longo período de obscurantismo.
Duvida? Olha só.
Primeiro, defesa psíquica, blindagem emocional: como lidar com um ambiente de trabalho que suga a alma, como lidar com colegas e familiares que nos deprimem e esgotam. Isso te parece importante?
Segundo, harmonizar o desejo: quanto mais você quer algo, mais você emperra esse algo também. Já reparou nisso?
Você quer tanto passar num concurso, que trava para estudar. Quer tanto vender um produto ou serviço, que tem um bloqueio criativo desgraçado na hora de produzir. Desviar desse bloqueio natural envolvia a Magia Major.
Terceiro, lidar com sombras e resistências internas: sem resolver a resistência, nada acontece. Simples assim. E aí, é importante?
Quarto, fazer uma intenção se materializar (esse é o must hoje em dia).
E aqui é preciso prestar atenção numa coisa: perceba, o desenvolvimento tecnológico empurrou o homem para o trabalho mental. Quer ver? Quantos dos seus amigos, conhecidos e familiares trabalham envolvendo algum tipo de esforço físico?
Então nos deparamos com um dilema: queremos mais da nossa mente do que ela habitualmente nos dá. Queremos ser mais produtivos, inteligentes, criativos etc. Hoje em dia, isso se tornou sinônimo de sobrevivência.
Mas ao mesmo tempo não recebemos nenhum tipo de treinamento mental decente. Parecemos “franguinhos” querendo levantar 200 quilos.
Por isso o interesse naquilo que se conhece como Magia Major tem ressurgido.
Mas eu, pessoalmente, vejo um bloqueio aí: as técnicas de Magia Major foram tradicionalmente preservadas nas ordens místicas, como o hermetismo, teosofia etc.
Como a ciência empírica moderna é derivada da Magia Minor, nossa mentalidade atual, muito técnica e prática, tem uma desconfiança dessas “coisas mentais”.
Muitas vezes vamos encontrar isso na forma de um conflito interno. Por exemplo, quero aprender mais sobre magia, bruxaria, mas desconfio ou tenho medo. Você tem isso?
Mesmo com todo esse receio e preconceitos sobre o tema, o interesse no assunto é indiscutível. Se formos ver a lista dos livros de não ficção mais vendidos, uma imensa maioria será algo voltado a coaching/autoajuda. São formas pequenas de Magia Major, algumas coisas que restaram.
E, na parte de ficção, histórias que envolvem magia (Harry Potter, Game of Thrones, Matrix, Senhor dos Anéis e por aí vai) estão sempre em algum lugar dos mais vendidos.
Certa vez uma seguidora me contou que se interessava muito sobre esse assunto de magia/bruxaria, mas que esse conteúdo dava certa repulsa nela. E é justamente nisso que eu quero entrar.
Repare que o termo que ela usou (“repulsa”) já nos faz perceber imediatamente uma ação de sombra.
E eu entendo isso. Afinal, fomos criados numa cultura que demonizou esses assuntos. Mas, para mim, ser bruxa ou bruxo, é seguir sua própria verdade, a despeito dos palpites de quem for.
Tem bruxa que gosta de caldeirão. Tem as que, como eu, gostam de livros, muitos deles. Tem bruxos wicca, cristãos, ateus, budistas, espiritualistas.
Ser bruxa não é uma religião. É quando você decide guiar a sua vida pelo seu SENTIR. É quando você coloca que as coisas que existem DENTRO de você são as mais incríveis e importantes.
Então, primeiro, quero que você se livre dos preconceitos que podem vir com a palavra “bruxa”. Bruxas são seres livres, só isso.
Segundo, para tornar esse assunto “palatável”, vamos fazer uma ligação com algo mais atual: surpreende você que os princípios da antiga Magia Major sejam muito próximos do que a atual neurociência diz?
O principal ponto de encontro das duas é sobre a natureza da realidade.
Basicamente, não temos como saber o que é a realidade de fato, e isso não tem importância. O que importa é a leitura que o cérebro faz da realidade.
Por exemplo, Deus existe?
Ninguém deu uma prova empírica satisfatória sobre isso, sobre Deus e a natureza dEle. O que nós temos, que é muito claro, são as diferenças cerebrais decorrentes de acreditar ou não.
Se você acredita num Deus punitivo e tem medo dele, seu cérebro age de acordo. Se é um Deus bom, temos outra ação cerebral. E assim vai.
O cérebro reage ao que você acredita.
Isso é importantíssimo. O cérebro não está nem aí se Deus, fadas e duendes existem ou não. O que interessa para ele é o que VOCÊ assume como real.
É por isso que temos que ter um cuidado imenso em como iremos construir nossa realidade. IMENSO.
Vamos supor que você acredite que:
- Deus talvez até exista, mas não faz muito parte do seu cotidiano;
- A vida é dura, difícil, uma selva;
- Você é uma pessoa relativamente fraca, e se vira mal e mal nessa bagunça;
- Sua preocupação com sobrevivência é diária.
Se identificou com algum desses pontos?
Então agora presta atenção, porque vai ficar importante. Isso está tanto nas antigas escolas de mistério quanto na neurociência: sobrevivência e crescimento são neurologicamente incompatíveis.
Essas duas chaves brigam pela mesma fechadura, pelo mesmo circuito neural. Portanto, o que temos é: OU sobrevivência OU crescimento.
Isso faz todo sentido biologicamente: imagine você numa época glacial, milhões de anos atrás. Você mal tem o que comer. Seu cérebro precisa reduzir o consumo energético. E agora?
O cérebro vai ativar o modo sobrevivência. Afinal, precisamos economizar energia. Determinadas áreas cerebrais, como criatividade e crescimento, receberão menos recursos energéticos.
Só que essa é uma medida arriscada, porque sem recursos energéticos para soluções ficamos limitados.
Por outro lado, se você reúne crenças de crescimento (prosperidade, está tudo certo, tudo de boas), seu cérebro entende que não há perigo e, portanto, não há necessidade de enxugar gasto energético.
Assim, ele aumenta o aporte para áreas de inteligência, planejamento e criatividade.
E aí chegamos no ponto em que estamos prontos para entender a grande cagada mundial: queremos um cérebro de crescimento (inteligência, produtividade, patati patatá), mas fazendo isso na pressão da sobrevivência.
Resultado: o cérebro buga.
E como resolver isso?
Aqui é onde a Magia Major e a neurociência passam a falar a mesma língua, apertar a mesma tecla: o cérebro pode, sim, ser convencido a mudar de ideia, a adotar um funcionamento de alto grau. Mas tem todo um trabalho mental envolvido nisso.
E esse trabalho mental pode ser grosseiramente resumido como: sair do modo de sobrevivência. O que é isso? É mudar a leitura da realidade. É Magia Major.
Agora me conta: para você, esse tema assusta um pouco ou quer mais?
3 comentários em “Afinal de contas, o que é bruxaria?”
Muito bom. Eu confesso que acho o tema interessante e ao mesmo tempo tenho um pouco de receio, talvez até por conta da criação cristã católica. Gosto muito da fé que professo, mas lendo esse texto entendi que os conceitos não precisam brigar entre si
Quero muito mais desse conteúdo! Magia Maior e Neurociência: amei isso!!! E entender que a ciência moderna “deriva” da Magia Menor fez todo sentido pra mim. Trabalhei muitos anos com psicanálise e, acessando seu conteúdo, consigo identificar porque “algumas mágicas” aconteciam… um mesmo campo de conhecimento colocado em prática conforme paradigmas distintos, vai produzir resultados também totalmente distintos – tá, isso eu até já sabia. O que eu não sabia é de onde “derivavam” cada um desses posicionamentos. Com esse texto fica tão nítido enxergar essa diferença e o alcance de resultados de cada uma. Em momentos diferentes da minha vida, eu mesma atuei “com um mesmo campo de conhecimento” derivado de paradigmas distintos sendo que um não fazia o menor sentido pra mim (até hoje) e o outro, um sentido gigante! Agora entendo o porquê! Muito obrigada por esse texto e por todos os seus ensinamentos! 🌷
Sou sua aluna (R8, Maestrias, Alquimia e Contos de Fada, por enquanto – aguardando o curso dos Sonhos) e tenho aprendido demais!!!
Dra Francis. Amo todos os assuntos que você posta. Encantada com o seu conhecimento. Obrigada por compartilhar.