Definindo metas: suas metas têm propósito ou são uma fantasia?

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“Ano novo, vida nova.” Quem nunca pensou nisso que atire a primeira pedra.

Inspirados por essa energia começo de ano, nessa época nós geralmente estamos mais renovados, com vontade de iniciar novos projetos. Afinal, coletivamente um ciclo se encerra, outro se inicia.

E quando se pensa no ano que vem pela frente, é comum ter dois tipos de pessoas: as do tipo que traçam metas, que fazem planos, ou as do tipo “deixa a vida me levar”, vivendo um dia depois do outro e torcendo pelo melhor.

Para quem gosta de definir metas, nessa hora é muito importante se fazer a seguinte pergunta: suas metas têm propósito ou são apenas uma fantasia?

Como assim fantasia?

Lembro de uma seguidora que contou certa vez que tinha realizado um antigo sonho de criança, que era morar em um apartamento, mas percebeu que continuava infeliz.

Ela tinha esse sonho, traçou a meta, alcançou-a, mas quando se deu conta, aquilo não era tudo o que esperava.

Sentir esse tipo de decepção depois de uma conquista desse tamanho pode ser frustrante. O que fazer com as metas, então? Como traçar metas com propósito? Como diferenciar os sonhos de vida das fantasias?

Jung trabalhou bastante isso. A fantasia é um material simbólico. Ou seja, é alguma coisa interna que precisa ser vivida, precisa ter espaço e se desenvolver. E por ser um material interno, simbólico, ela tem MUITA energia.

Muita. É aquela coisa de “não podemos subestimar o poder das fantasias”.

E aí o que acontece com um material simbólico, interior, num mundo tão concreto? Ele acaba sendo entendido ao pé da letra.

A fantasia não deve ser “levada” para o mundo concreto. Isso não resolve nada, como essa seguidora percebeu. Inclusive, parece só piorar as coisas, porque aquela energia do inconsciente permanece sem ser compreendida e aceita.

Para ver como isso pode “dar ruim”, vou contar um causo surreal para você.

Estava eu no salão, na época que 50 Tons de Cinza era frisson. E tinha uma mulher do lado aos PRANTOS, contando que leu o livro e ficou tão mexida que decidiu terminar o casamento.

Ela queria viver aventuras sexuais, queria viver a vida.

Pois bem, lá foi ela viver a vida no mundo BDSM. Final que não era nada daquilo que ela imaginava, ela odiou. Daí decidiu voltar pro marido, que não quis mais saber dela.

E lá estava ela desesperada, fazendo “terapia em grupo” no salão, porque estava arrependidíssima. Queria voltar pro casamento, sentia falta do marido, amaldiçoava o livro que “deu essas ideias”.

Veja, ela levou pro concreto algo que era interior. Algo que era dela, para ser explorado e vivenciado dentro dela.

Às vezes, a fantasia PODE levar a um caminho de autodescoberta, e a pessoa decidir de fato terminar um casamento que não tem mais nada a ver. Mas isso é pela descoberta, e não pela fantasia em si.

A fantasia sempre deve ser pega “por dentro”. Compreendida como uma energia “presa” que precisa se expressar.

Mais um exemplo, dessa vez um meu.

Gabriel e eu estávamos procurando um outro local para atender. Procura, procura, procura. Chegamos a pensar em construir uma clínica. E aí a ideia foi crescendo: o terreno precisa ser assim, vai ter um laguinho para meditar, isso e aquilo.

Estava ficando um projeto caro.

E aí nós nos tocamos que precisávamos olhar para dentro. NÓS queríamos uma vida profissional tranquila, que proporcionasse mais tempo para nós.

Não queríamos uma clínica linda com um lago para patos. Queríamos NÓS poder ficar de frente para um lago, olhando patos. Inclusive, para termos uma clínica assim, teríamos que trabalhar o dobro, o triplo.

E o nosso anseio mais profundo, que era ter essa leveza, ia ficar de lado. A gente quase levou para o concreto uma coisa que era nossa. Pensa só!

Quando a gente para pra pensar nisso, vem a pergunta de milhões: como a gente trabalha essas fantasias por dentro?

Olha, eu sei que cada fantasia é muito interna e pessoal. Mas vou tentar colocar algumas coisas que podem ajudar com “pistas”. Por exemplo, vamos pensar nessa mulher que terminou o casamento para viver uma aventura estilo 50 Tons de Cinza.

Vamos imaginar que ela esteja aqui conosco, eu, você e ela. Aí perguntaríamos: “Mas o que te atraiu tanto no livro?”

Ela pensaria um pouco, cruzaria as pernas e nos diria: “Ah, a aventura. O tesão. Minha vida está tão sem graça! O sexo com meu marido é normal, não tem toda essa emoção aí. Eu quero viver um romance de verdade. Me sentir viva, entende?”

Talvez, nesse momento, sintamos de perguntar para ela: “Mas e o seu casamento? Você está feliz com ele?”

Pode ser que ela tome mais um gole de seu café, e nos diga: “Eu sinto que me acomodei, sabe? Deixei de viver de verdade. Não é que não tenhamos nossos momentos, mas não tem mais aquele tchan. Ele me aborrece. Reclamações todo dia, nada está bom.”

Ela agora dá um sorriso sonhador: “Não era assim que eu sonhava minha vida amorosa, entende? Sempre quis ter uma grande paixão. Experimentar tesão, desejo. Quero ser mais leve, quero não me preocupar tanto com as coisas.”

Percebe quanto material já temos?

Veja uma coisa aqui: a fantasia sempre tem algo de concreto. E também tem algo interno, verdadeiro.

Quando temos algo que sonhamos, que desejamos, isso é o nosso guia, nosso norte. Nos dá forças para vencer os obstáculos. Mas…

(Agora é hora de você parar o que está fazendo e prestar atenção total aqui.)

Junto com o seu propósito verdadeiro, aquilo que realmente aquece sua alma, pode ter algumas doses de fantasias misturadas. De ilusões. Como saber?

Simples. A fantasia te paralisa. Você quer empreender, mas não sai da cama. Tem uma ótima ideia, mas não dá os primeiros passos. Tem medo das primeiras frustrações.

É absurdamente importante separar a “fantasia” (aquele desejo mais ligado ao ego) daqueles desejos ligados à alma.

E não, não é de uma vez só. A cada camada de “fantasia” que você descobre e tira o seu real significado, você ganha energia para avançar mais nos seus projetos.

Vou dar um exemplo. Vamos pegar essa nossa mulher apaixonada pelo Christian Grey.

E se antes de ela largar tudo, a gente pedisse para ela um tempo, um momento?

Então falaríamos: “Certo, você está sentindo falta de se sentir mulher. Existe tesão, desejo, libido. E, de alguma forma, isso tudo quer sair. Quer fluir.”

“Você está sentindo falta de mais vida. Ou seja, já entendemos que você sente falta de se permitir mais. De se libertar mais. De se enxergar mais como uma nova mulher.”

Para mim, por exemplo, essa mulher queria viver sua Afrodite.

E se ela, aos poucos, internalizasse essa energia toda para uma imaginação ativa? Para a deusa dentro dela? Para o seu amante interior? Para mais arte, música, movimento?

O que será que sairia? Essa energia tem potencial de transformar muita coisa, se não for “desperdiçada” em algo concreto (por exemplo, um amante). Sabemos que há muita fantasia quando há muito desejo misturado com muito medo de frustração.

Há coisas verdadeiras. Como esse desejo de se renovar, de viver com mais intensidade. Com tesão. E há coisas que não terão nada a ver, que podem até prejudicá-la.

E isso vale para nós. A gente vai descobrindo aos poucos a diferenciar sonhos com propósito de meras fantasias. Vamos precisar ir separando o joio do trigo. Essa é a graça da coisa.

Quanto mais perto estivermos do propósito verdadeiro, mas a vida vai nos ajudar.

A gente não vai esquecer do concreto. Trocar meu colchão velho por uma cama box queen foi uma das melhores decisões da vida.

Mas as GRANDES decisões concretas, que te dão um “uau!”, tipo mudar de casa, relacionamento, carreira, país, enfim… costumam ter coisas simbólicas junto.

E entender o simbólico vai te ajudar a tomar uma decisão concreta de forma mais sensata.

Agora que você sabe diferenciar sonhos com propósito de fantasias, me conta: suas metas para esse ano aquecem seu coração?

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