Entendendo o processo de cura do inconsciente

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Digamos que o inconsciente tem um propósito muito bem definido. Nossa evolução.

Esse, aliás, foi o principal desentendimento entre Jung e Freud. Freud dizia que o principal instinto que nos norteia é o da sexualidade. Jung discordou.

Para Jung, nosso principal instinto é o do crescimento.

Ele tem uma frase que eu amo, que é assim: “a consciência pensa em termos de anos. O inconsciente em termos de milênios”.

O inconsciente está trabalhando há milênios para a evolução coletiva. E a nossa missão é contribuir para isso, através da nossa própria.

Então, quando inventamos essa de “ah, vou ficar aqui no meu canto, pagando meus boletos e vendo Netflix”, é como se o inconsciente dissesse: “criatura, você tem ideia do trabalho que deu para colocar você nesse momento do mundo?”

“Tanto potencial incrível para você ficar pensando só no bônus de fim de ano? Ah, mas não mesmo.”

E aí o inconsciente vai fazer tudo para te incomodar. Vai roubar sua energia, vai criar sintomas, vai travar a vida, vai te deixar em crise. Basicamente, vai fazer de TUDO para você ficar de saco cheio e decidir entrar na toca do coelho.

Isso quer dizer que não dá para descansar nunca?

Pode descansar, lógico. Só não pode se acomodar na vida.

Explico: geralmente o nosso comodismo é ENQUANTO TRABALHAMOS e não temos nenhum objetivo de vida maior do que chegar em casa e ver rede social e Netflix.

Mas digamos que você está acompanhando os conteúdos aqui há um tempo e decidiu que quer mudar, quer trabalhar esse tal de inconsciente. E aí você fala: “Ok, identifiquei tal problema em mim. Como eu resolvo?”

Aqui é onde as coisas começam a ficar interessantes. O inconsciente não responde a isso. 

Essa visão foi trazida pelo patriarcado: qualquer coisa que nos desvie do que almejamos é um problema. Que deve ser resolvido. E resolver as coisas passa a ser algo prático, mecânico, do tipo “faça isso e isso”, um checklist. Sem profundidade.

O processo de trabalho do inconsciente, para curar um aspecto ferido nosso, é diferente. Sejam transtornos de não aceitação do corpo, compulsão alimentar. Ou o tal “não ser boa o bastante” e se impor uma crítica excessiva. Ou ansiedade, depressão, dificuldades no vínculo com os filhos, com a mãe, com a maternidade…

Então a quê o inconsciente responde? A que tipo de cura?

Se o processo imposto pelo patriarcado é um checklist, o processo de cura do inconsciente é uma gestação. Durante meses, aquilo se remexe em nós. Vai mudando a nossa forma de sentir. Tudo muito sutil. Não dá para enxergar nem mensurar, está oculto.

Até que, um belo dia, tudo isso irrompe num glorioso nascimento.

Assim como numa gravidez a mãe não pode abrir a barriga dela para dar uma olhada como é que está o filho, no trabalho com o inconsciente não dá para ficar checando o tempo todo como está o progresso das mudanças internas.

Eu lembro que na minha gravidez uma das coisas que eu mais queria era isso. Eu falava: “pô, por que eu não tenho uma barriga transparente?”

Claro, se eu tivesse uma barriga transparente e eu pudesse ficar olhando a minha filha, eu ficaria tão focada naquilo que eu deixaria de vivenciar a energia necessária para nutrir a nossa conexão. Deixaria de prestar atenção que era o universo que estava alimentando a minha filha.

Fixar o foco na situação concreta é “perder” a luta simbólica, perder o controle da energia que propicia a mudança. É preciso primeiro acreditar, confiar. Primeiro vem a fé. Depois o milagre.

É o famoso salto de fé.

O problema que eu vejo acontecer muito aqui é o nosso imediatismo. Queremos tudo para ontem, para já. Só que o processo de evolução não é um destino, mas uma maneira de se caminhar.

Essa é a parte mais difícil em toda cura. Eu não posso dizer, por exemplo, “como curar sua Afrodite”, como se fosse algo rápido do tipo “compre um creminho, faça suas unhas toda semana”.

Não é isso. Seria bem mais fácil se fosse, mas essa ainda é uma forma patriarcal de entender a questão.

O que eu posso fazer é contar a história dela, como ela sente a vida e o mundo. Como ela se expressa, seus caminhos sagrados. Seus símbolos e mito. Para que você possa incorporar isso, aos poucos, na sua forma de ver e sentir.

Não posso fazer um checklist de “faça assim, assim e assim”. Isso soa agradável, e certamente é mais fácil de vender. Mas não vai funcionar. Eu ficar apontando “isso é certo” e “isso é errado” é perder a essência da cura.

A boa notícia é que a cura vem sozinha, quando conseguimos nos desfazer dessa forma de pensar criada pelo patriarcado.

Algumas vezes é exaustivo. Alguns processos parecem recuar. Fica um vai e volta. Você parece ter resolvido algo, até que “lá vamos nós tudo de novo”. E é assim mesmo, não tem NADA de errado com você.

Na prática, esses “recuos” não são uma “regressão”, como se todo o trabalho de antes tivesse ido pro lixo. Enxergue esses processos como algo circular, que se repetem muitas vezes na nossa vida até que tenhamos aprendido bem a lição.

Aliás, essa é a estrutura básica da vida, como uma fita de DNA. Vamos evoluindo em espirais cada vez maiores de consciência. A cada vez integramos mais aspectos luminosos, e a cada vez as sombras ficam menos fortes. Até a transformação ser completa.

E aí quando falamos de processo interno, a máxima é: um passo de cada vez. E tudo que importa na vida… envolve processo interno.

O processo de cura é sutil. Mas só de sairmos do “como resolvo” já é um salto tremendo.

Porque é ótimo ter passos, metas, nortes para muita coisa na vida. Mas não para um processo de cura. Não para se descobrir.

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