Indiferença nos relacionamentos: como compreender e transformar

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Uma queixa muito comum das pessoas hoje em dia, quando falamos em relacionamentos, é como lidar com pessoas frias, indiferentes, que parecem guardar suas emoções a sete chaves. Vale a pena investir energia nessa relação ou é melhor partir para outra?

E o que se vê com mais frequência é termos mulheres se perguntando como lidar com homens que não demonstram sentimentos.

Para começo de conversa, vamos partir bem do básico: a educação emocional da imensa maioria dos homens é MUITO ruim. Mesmo aqueles supostamente “mais trabalhados” dão fortes derrapadas.

Isso é por uma forte convenção social.

Temos ao menos 30 emoções muito diferentes entre si. Mas os homens, por conta dessa repressão dos sentimentos desde pequenos, acabam, muitas vezes, tendo apenas dois repertórios: raiva e indiferença.

Repare como a maioria das explosões de raiva de um homem, na verdade, são mágoa. Ou vergonha.

Isso porque, de acordo com a nossa sociedade, o homem expressar raiva é aceitável. Aparentar indiferença é aceitável. Agora, expressar medo, vergonha, ou aflição, por exemplo, não é aceitável.

Claro, isso está mudando. Mas muda devagar.

Então, o que você tem como “indiferença” é uma representação socialmente aceita de muitos sentimentos diferentes. Na verdade, a indiferença verdadeira, como sentimento, é MUITO rara. As pessoas verdadeiramente “frias” são raras.

Isso se dá porque somos seres sociáveis. Somos todos muito sensíveis às reações emocionais dos outros sobre nós. Se estamos sendo aceitos ou não. Se estamos no caminho certo ou não. Se estamos agradando ou não.

Por isso, quando alguém expressa frieza, muito provavelmente é porque associa expressão emocional com fraqueza. E aí, da mesma forma que a raiva é uma expressão socialmente aceitável da mágoa, a frieza é aceitável para mascarar a insegurança.

Então, no caso dessa pessoa hipotética, você tem alguém com muitos sentimentos complexos dentro de si, como todos nós. Que não os compreende de todo. E que tem muitas inseguranças sobre si mesmo.

Agora, como lidar com isso?

Bom, sempre vamos começar pelo ponto de partida. Ou seja, nós mesmos: como NÓS reagimos a essa “frieza”, a essa falta de feedback emocional? Que gatilhos isso aciona em nós?

Por exemplo, se você tem uma necessidade constante que a pessoa expresse seus sentimentos por você, do que realmente se trata?

Por uma convenção social (mais uma!), acabamos dando uma enorme importância aos relacionamentos românticos. Importância excessiva, até. E não no sentido do amor, mas no sentido de aceitação social.

Quer ver só? Imagine uma reuniãozinha de família, com os famosos “tios e tias”. A primeira coisa que perguntam é o que você faz. Sua profissão acabará recebendo a maior carga das expectativas.

E a segunda pergunta, qual é? “Como vão os namorados (ou namoradas)?” Vê como os relacionamentos acabam recebendo uma segunda maior carga?

Daí, por conta dessa pressão social, que internalizamos desde muito cedo, acabamos colocando nossa autoestima na relação. E então, quando o outro não se expressa, não diz que te ama, que não está disponível etc, nos sentimos “menos”.

Mas aqui está o ponto. Quando entramos nessa menos-valia, perdemos a chance de trabalhar a questão.

Porque no estado de menos-valia, só sabemos cobrar. Só que cobranças não funcionam como forma de mudar padrões. Cobrar filhos, amigos, companheiros, simplesmente não funciona.

Então como “cobrar” que o companheiro/a faça a parte dele/a, mas sem cobrar-cobrar?

Agora vem o segredo de milhões. E que serve tanto para lidar com o companheiro na divisão das responsabilidades domésticas, como para ajudar o cara travado emocionalmente, ou para fechar com um cliente… para tudo, enfim.

Aqui vai: apontando as vantagens daquilo. E mostrando um primeiro passo que seja muito, muito simples. Porque é muito mais fácil seguir em algo novo quando já demos o primeiro passo.

Quando eu atendia uma pessoa com a vida virada, precisando mudar totalmente de estilo de vida, eu sugeria que ela tomasse 3 copos de água a mais por dia. E explicava que para o cérebro isso realmente fazia diferença.

Aquilo era tão ridiculamente simples, que a maioria das pessoas conseguia fazer. E quebrava a resistência inicial. Na próxima consulta, já estavam mais dispostos e animados a fazer novas mudanças. E ainda mais novas mudanças.

Então, por exemplo, para um pai ficar mais disponível para o cuidado com um filho, para mim, nada melhor do que “deixe ele se acostumar com o teu toque. Com a sua voz. Isso vai conectar vocês. Ele vai te amar ainda mais”.

Percebe a diferença? Em vez do “você tem que fazer isso”, vamos apresentar algo prazeroso. Um ganho.

E isso é verdadeiro. O pai quer ser amado. Quer ser importante na vida do filho. Mas alguns não sabem (por incrível que pareça, não, não sabem, não fizeram essa associação) que trocar fralda e brincar é onde se cria essa conexão.

Então faça com que o outro se sinta mais, não menos. Isso limpa o mundo, inclusive. Acho tão importante quando reciclar o lixo.

Agora vamos imaginar que você está na fase da paquera. Fica encantada por um tipo “frio, indiferente”, e quer uma dica do que fazer, do que observar e prestar atenção nessa possível relação.

Bom, por trás dessa “frieza”, podemos ter uma diversidade de emoções e atitudes. Mas tem UMA em especial que eu não iria querer para você: a frieza que julga.

Por trás dessa frieza, há uma enorme insegurança. Até aí tudo bem, nada mais humano. Mas quando temos esse tipo de comportamento, o outro quer que você seja uma “ferramenta de autoestima”. Você serve para o outro se sentir melhor.

E, como tal, deve ter uma beleza padrão, deve falar baixo, deve ser delicada, e uma infinidade de outras coisas. São cobranças constantes, e aí você acaba reagindo a elas, se modificando, achando que, assim, finalmente conseguirá uma abertura emocional do outro.

Já vi muito isso. E me enche de tristeza. “Ah, coloquei um silicone, agora sim ele vai ficar doidinho por mim!” (Estou colocando um exemplo extremo, mas não é raro, não.)

Aqui, a inacessibilidade/frieza atuam de forma que você se sente sempre como se tivesse faltado a alguma aula essencial. Que é você que não entende. Que o problema é com você. E você acha que a frieza do outro mudará se você mudar algo em si.

Então, voltando:

  • Ponto um: como isso ME pega?
  • Ponto dois: isso está afetando minha autoestima?
  • Ponto três: isso está sendo usado de forma que eu acabo não sendo eu mesma, sempre me sentindo em falta?

Se isso está acontecendo, eu, como amiga, torceria para você não prosseguir com essa relação. Não vale a pena. Agora, se isso não acontece, se a frieza do outro não te “diminui”, no máximo te exaspera, aí sim podemos trabalhar.

E sabe onde a gente vê muito isso? Nos aplicativos de relacionamento. Descrições do tipo:

Isso vai além de “só fazer graça”. Por trás desses comentários, há um distanciamento emocional. Uma mensagem de “não se aproxime de mim como um ser afetivo”.

E aí é muito comum vermos frieza, “castigo do silêncio”, ghosting.

Então, o que nós podemos ver com isso é que as pessoas falam. Estão sempre falando sobre si mesmas. Seja com comentários descabidos num perfil de aplicativo de relacionamento, seja com o silêncio.

Por isso, se você souber ouvir de primeira, não precisará ter que ouvir muitas vezes. E quando a gente percebe isso, as coisas começam a mudar.

Sentiu que esse texto te ajudou de alguma forma? Compartilha com aquela pessoa especial que vai adorar mergulhar nessa jornada de compreensão e conexão autêntica.

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