A verdade por trás dos contos de fada: que segredo Gato de Botas oculta?

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Muita gente acha que contos de fada são só “historinhas”, uma forma de entreter as crianças. O que a maioria não sabe é que os contos de fada são basicamente um mapa: vá por aqui; por aqui não; aqui você tem que tomar cuidado com tal coisa. Quer ver só?

Você conhece a história do Gato de Botas?

Era uma vez um velho moleiro e seus três filhos. Ele dividiu seus bens entre os três. O mais velho ganhou o moinho. O do meio, um burro. O caçula, um gato.

Ora ora, só uma “historinha”? Mal começou o conto e já temos um material riquíssimo para analisar.

Esse é um modelo ultra clássico dos contos de fada: o filho mais velho é a mente mais tradicional. Ele tem mais privilégios, mas é pouco criativo. Não é o foco desse conto, mas em outras histórias sempre surge um infortúnio para esse ser.

O do meio… bom, o do meio fica no meio do caminho. Ele não é tão privilegiado quanto o primeiro, acaba tendo que usar mais a cachola para produzir riqueza a partir de um burro, e tem infortúnios menores que o primeiro.

E o caçula dos três traz a mente mais lúcida, mais conectada ao inconsciente.

Isso é tão tradicional da estrutura dos contos de fada que é universal: esse mais novinho sempre ganha algo de valor duvidoso. Em outros contos, ele é motivo de riso e desdém por parte dos irmãos.

É clássico. A conexão com o inconsciente é sempre a coisa mais “insignificante”, mas que se revelará a mais poderosa de todas, deixando os outros irmãos comendo poeira.

Um detalhe: na época que os contos foram escritos, não se pensava que cada personagem representava uma parte psíquica nossa. Ou seja, isso de vários contos terem a mesma estrutura é do inconsciente coletivo. E é por isso a riqueza deles!

Agora, voltando pro conto:

O terceiro irmão, desiludido, ficou olhando pro gato e disse: “o que vou fazer com um simples gato?”. E leva um susto quando o gato fala! O gato diz: “me arranje um par de botas, um chapéu e um saco”.

Outra pausa para análise: aqui temos mais um padrão. Nos contos, o inconsciente sempre te pedirá algo, aparentemente simples, mas que envolve um voto de fé. É um acordo simbólico. Você precisa “dar algo” ao inconsciente, para provar que acredita nele.

Pois bem, o gato foi à floresta, caçou duas perdizes e as levou ao rei, dizendo que era em nome do seu amo, o Marquês de Carabás. Fez isso TODO dia, até que o tal rei começou a ficar curioso – quem seria o tal marquês?

Qual é o traço do gato que chama a atenção aqui? A ousadia. E a inventividade. Esse gato criou uma realidade do nada. O tal marquês. E passou a agir rotineiramente como se aquilo fosse de verdade.

Aqui temos a primeira lei do Gato de Botas: aja como se o seu desejo interior já fosse uma realidade concreta.

O gato e o rapaz estavam na margem do rio, quando o gato viu a carruagem se aproximando. Ele imediatamente mandou o rapaz tirar a roupa e se jogar no rio.

Aí vem a segunda lei do Gato de Botas: agarre as oportunidades quando elas se apresentarem.

O que encaixa muito bem com uma frase milenar do Sun Tzu, em A Arte da Guerra: “as oportunidades multiplicam-se à medida que são agarradas”. Bom, se o Sun Tzu e o Gato de Botas estão de acordo, quem somos nós para discordar?

O gato grita para o rei: “socorro, majestade! Roubaram as roupas do meu amo, o Marquês de Carabás!”.

O rei reconheceu o nome, emprestou roupas nobres ao rapaz e o colocou na carruagem onde estava sua filha.

Essa parte exige mais calma. A roupa é a persona, os papéis que representamos. É como você se enxerga e como se mostra aos outros. No momento certo, é hora de se desfazer da persona anterior (no caso, rapaz humilde perdido na vida).

Já o rei, nos contos, representa um princípio dominante, uma Autoridade Interna. E quando você toma a atitude correta, na hora certa, é recompensado por essa Autoridade. Ela te coloca em um outro “patamar” (no conto, as roupas nobres).

Agora, chegamos ao auge da esperteza do gato:

O gato diz ao cocheiro do rei qual o caminho a ser seguido. Em seguida, corre na frente da carruagem, até chegar nas terras do ogro.

Ele fala para os camponeses: se quiserem se livrar do ogro, digam quando a carruagem passar: “essas são as terras do Marquês de Carabás”.

E aí, o gato vai de encontro ao ogro, no castelo. E diz, todo humilde: “ouvi dizer que és capaz de poderes mágicos! Você consegue se tornar um leão?”.

O ogro, claro, todo exibido, se transforma num leão. E o gato: “uau! E você conseguiria se transformar num simples ratinho?”.

Se exibindo, o ogro vira um rato. E aí zás, o gato o pega e come!

O ogro, evidentemente, representa os nossos complexos de inferioridade. Via de regra, nos contos, esses seres têm muitas terras e riquezas. Ou seja, todo o nosso potencial se esconde por trás desses complexos.

Vem então a terceira lei do Gato de Botas: os complexos são seus, e é você que definirá que tamanho eles devem assumir. Podem ser imensos como um leão. Ou simples como um rato. E aí, você poderá dar cabo deles.

Nesse momento, a carruagem, com o rei, sua linda filha e o aturdido rapaz chega às portas do castelo do ogro. O gato corre para recebê-los: “sejam bem-vindos às terras do meu amo, o Marquês de Carabás!”

O rei, encantado, convida o “marquês” para se casar com sua linda filha. E vivem todos felizes para sempre.

Agora, repare numa coisa importante: o gato poderia, a qualquer momento, ter ido direto no castelo do ogro, derrotá-lo e dar o castelo para o rapaz. Mas aí seria apenas conforto material, sem mudança nenhuma. O gato estava pensando muito mais longe.

Aqui, temos a questão do propósito. É necessário um propósito de vida mais elevado (no caso, fazer parte da nobreza. Tornar-se internamente nobre).

Então veja: o moinho (que o irmão mais velho ganhou) representa a matéria. O burro (do irmão do meio) representa o trabalho. E o gato, a intuição. Que serve a um propósito maior.

E aí você pode estar se perguntando: mas e as mentiras do Gato de Botas para favorecer seu dono? Isso não passa um recado negativo referente à ética?

Nesse ponto é preciso fazer uma distinção. Os contos são diferentes das fábulas (que têm um fundo moral). Já os contos são padrões. O gato, como você deve ter percebido, é um trickster.

O trickster é uma figura que tem seu “próprio código moral”.

Se perguntarmos para o gato, o que ele vai dizer? Eu fico imaginando ele falando: “ué, todos se beneficiaram. A população ficou livre do ogro, o rapaz se tornou um nobre, o rei ganhou um ótimo genro e a princesa um ótimo marido. Eu só fiz as coisas acontecerem.”

Percebe como tem muito mais coisa nos contos de fada do que percebemos à primeira vista? Eles não são mais apenas uma historinha, não é mesmo?

Essa é a beleza de enxergar o significado simbólico dos contos. Eles escondem ensinamentos profundos, e, através de histórias, nosso cérebro acessa e armazena muito mais conhecimentos que, de outra forma, logo poderiam ser esquecidos.

E você, o que achou do conto sob essa nova perspectiva? Interessante? Então compartilha esse texto com quem vai adorar acessar esse novo ângulo do conto!

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