Estamos passando por um período de grandes mudanças, e o que todos queremos é uma nova forma de trabalhar, servir e prosperar que não envolva exaustão. Tensão. Insegurança. Chicotinho nas costas. Não queremos mais formas doentias de trabalho.
Afinal, o trabalho externo é onde nós NOS trabalhamos, onde temos a chance de evoluir e servir. Mas precisamos que o trabalho fortaleça nosso crescimento espiritual, e não que atue contra.
E quando a gente começa a prestar atenção nesses aspectos mais sutis do trabalho, pode surgir uma pergunta muito boa: “se há sentimento de aprisionamento, aquele trabalho não é para mim?”
Aqui, temos duas possibilidades (adoro organizar assim):
Possibilidade 1: não é para você, e vai continuar não sendo, mesmo que você plante bananeira todo dia.
Possibilidade 2: a situação não é tão ruim assim. São as suas sombras que estão tornando tudo pior.
Agora vamos analisar melhor cada uma dessas possibilidades.
Primeira situação: não é para você e vai continuar não sendo.
Vamos simplificar a sua vida? Nesse contexto, existirá dentro de você o mais puro sentimento de REVOLTA. Ou seja, uma parte sua (sua alma, sua essência) se sente AGREDIDA de estar nesse ambiente.
O meu conselho aqui é evitar racionalizar em excesso. A tendência é misturarmos culpas e medos (“mas então o que eu vou fazer?”, “como vou pagar minhas contas?” etc), e aí perdemos a objetividade.
Se há esse sentimento, ele deve ser respeitado. Ou seja, você não precisa sair AGORA, mas vai começar a traçar planos para isso.
Segunda situação: não é tão ruim assim. Alguns ajustes internos darão conta (pelo menos nesse momento).
Veja, não significa que seja BOM. Mas que o foco, no momento, será arrumar essas arestas internas. Então, a tendência é que, com o tempo, você alcance outro grau de evolução interna. E aí, uma mudança mais concreta aparece.
A boa notícia é que sombra é um negócio relativamente fácil de achar. É só procurar se há um forte sentimento de INCAPACIDADE, se você se sente inferior, uma fraude. Se você se compara negativamente.
E para ilustrar melhor essas duas possibilidades que podem acontecer, vou dar um exemplo que vivi no hospital.
Num primeiro momento, eu me sentia terrivelmente incapaz. As coisas que eu sabia fazer não eram bem aproveitadas lá. Eles exigiam habilidades que eu não era tão boa.
Na época, eu desejava muito sair. Mas quando o assunto é sombra, nós costumamos ficar paralisados. Então eu não me atrevia a sair, não tinha coragem. “Nunca mais vou achar algo tão bom, vou me arrepender se eu sair” etc.
Ou seja, a questão era a minha crise interna. E aí foi todo um processo interior. Burnout, encontrar Jung e essa história toda. Levou uns cinco anos esse troço.
Veja, o hospital não tinha “culpa”. Esses medos meus eu teria que ter enfrentado em qualquer outro lugar. Até que chegou um momento que (repare bem aqui) eu continuava sentindo medo, continuava me sentindo na escassez e na penúria, continuava tendo mil dúvidas. Mas…
Embaixo de tudo isso, eu percebi um sentimento novo, que eu não conhecia: REVOLTA.
Pura e simples revolta. Um aspecto meu que queria simplesmente virar as costas e ir embora. Não importava que eu tivesse que reduzir drasticamente o meu padrão de vida, ou engolir meu orgulho e sair pedindo emprego por aí. Eu queria desesperadamente ser livre.
E, de novo, isso nada tinha a ver com o hospital. São processos internos.
Aquela revolta era nova. Ela me surpreendeu. Depois de tanto tempo só sentindo opressão, eu achei ela refrescante. E quando eu me concentrei nessa revolta, o pensamento que veio foi claro, claríssimo: hora de ir embora.
Quando bateu a revolta, eu virei as costas e me mandei? Não, demorou mais um tempo. Eu precisava amadurecer essa revolta. Porque eu sabia que o buraco era mais embaixo.
Mas, nessas horas, o universo dá uma mão. Ou, melhor dizendo, dá uma mão para empurrar aqueles centímetros que faltavam para a gente cair no precipício.
E foi o que aconteceu ali. Se você me acompanha há mais tempo, deve lembrar dessa história: bem nessa época, no meio de centenas de médicos, eu fui “sorteada” para ser auditada pela CGU.
Os caras estavam investigando o povo que finge trabalhar, e isso é super válido. Mas eu era uma das mais caxias. E mesmo assim eles encrencaram com os minutos que eu saía para tomar café à tarde.
Aí a revolta borbulhou e entornou o caldo: “Espere aí, eu faço um plantão de 12 horas, estou grávida, não tem lanchonete no hospital. Eu preciso comer. E só saio quando já terminei todas as funções”.
Fim que, na época, eles me deram a opção de pagar em horas ou descontar do salário.
Eu resolvi pagar em horas. Só para alimentar o ódio. E aí somei as longas horas que levei preenchendo relatório e indo em reunião.
Naquele momento, eu fiz, sem saber, uma ação no reino intermediário. Eu digitava aqueles relatórios com a pura força da revolta. Dava para ouvir de longe eu socando o teclado.
A cada linha, eu entoava: “vai ser o último relatório desse tipo na minha vida”. Até que a revolta superou o medo. Esmagou ele em pedacinhos cada vez menores. E não deu outra: depois que a Sassá nasceu, pedi exoneração. Exatamente um mês antes de explodir a pandemia.
Mas e então, como encontrar um trabalho que te faça feliz e pague as contas?
A pergunta de milhões. Aqui, precisamos começar do começo. Porque veja, a gente costuma não dar muita atenção a isso, mas, para começar, comece SEMPRE do começo.
E o começo, nesse caso de buscar uma nova carreira, é que ela precisa cumprir 3 requisitos básicos:
1. Deve ser algo que te deixe energizado.
Porque veja, se você tem mais energia, trabalha melhor. E se trabalha melhor, os resultados são melhores. Não tem segredo aí.
2. Deve ser algo que aproveite suas habilidades.
Enxergue como um mistério estilo Agatha Christie. No que você é particularmente habilidoso? Ou seja, o que você aprende com facilidade e te gasta pouca energia?
Se você tem muitas habilidades, simplesmente enumere. Não precisa usar todas. Mas algumas. De preferência, as melhores.
E agora vem, talvez, o mais importante:
3. Deve respeitar suas limitações.
Nada de dar murro em ponta de faca. Isso pode servir para outras coisas na vida, mas não aqui. Quais são suas limitações? O que você não tolera e não dá conta? Quais são seus pontos mais frágeis?
Tendo em mente esses três requisitos, é hora de colocar tudo isso no papel. Anotar. Porque fazer à mão é infinitamente melhor do que no computador, uma vez que a atividade motora fina de escrever cria uma alça motora no cérebro, que facilita a atenção no processo.
Agora que você já sabe os segredos para lidar com alguns dos maiores BOs no trabalho, que tal compartilhar esse texto com aquela pessoa especial que está precisando saber disso?