Animus e anima: guias invisíveis em nossos relacionamentos

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“Amor é fogo que arde sem se ver,

é ferida que dói, e não se sente;

é um contentamento descontente,

é dor que desatina sem doer.”

Ah, a paixão! Quem nunca suspirou, sonhou acordado com uma paixonite que atire a primeira pedra. Agora, de onde vem todo esse poder de “encantamento”? 

Essa chama ardente, esse olhar especial sobre uma outra pessoa, nós vamos ver relacionada a uma dupla de arquétipos muito especiais: animus e anima, ou melhor, o homem interior da mulher, e a mulher interior do homem.

Se você, mulher, vê um cara que te deixa irresistivelmente atraída, pode saber: é seu animus projetado lá. E vice-versa para o homem.

Animus e anima gerenciam muito do nosso relacionamento com o sexo oposto. E muitos aspectos inconscientes da nossa cultura.

Por falar na ação do animus/anima nos relacionamentos e em aspectos inconscientes na sociedade, como eles aparecem na nossa vida? Como que saber mais sobre eles pode nos ajudar?

Vejo isso em três níveis.

Primeiro nível: animus e anima, via de regra, se apresentam primeiro em seu lado negativo.

No homem é a depressão, o sentimento de fraqueza, o mau humor. Na mulher é aquele juiz interior que tudo condena, ela se sente errada, enfraquecida.

É o que a gente chama de possessão de animus e anima. Nesses casos, eles são o famoso “diabinho” que sussurra coisas más no ouvido.

Segundo nível: se você não aprender a lidar com eles, eles aparecerão com quem você se relaciona.

Ou seja, a mulher vai escolher o cara que a inferioriza. O homem vai escolher a mulher que o faz se sentir pequeno. E esses animus e anima são desenvolvidos especialmente sob a influência do pai (na mulher) e da mãe (no homem), então aspectos de criação dos filhos são essenciais aqui.

Por fim, temos o terceiro nível: quando alcançamos o seu lado positivo, eles têm um poder de transformação impressionante.

Esse terceiro nível é o que todos devemos alcançar, só que antes disso pode surgir uma dúvida: a representação de animus como forte, rígido, e a anima como sensível não teria um viés machista? No fundo se tratam de construções sociais?

Essa pergunta é maravilhosa, e a resposta é muito mais complexa e interessante do que parece. Vamos lá!

Na verdade, o animus não é forte e rígido, nem a anima é sensível. O que acontece é que o animus na sua forma positiva pode CONECTAR a mulher a um princípio masculino de força. Uma força de ação, de impulso, de criação, de defesa. Porque existem forças e energias que se expressam de forma masculina, e outras de forma feminina.

Por exemplo (é um exemplo aleatório, tá?), pense numa criança fazendo birra. Invocar a poderosa força masculina do animus nessa hora, em que só falta berrar “eu não permito esse comportamento!” não vai adiantar absolutamente nada. Nessa hora, você precisa de um outro tipo de força, chamada paciência, contar até 10, o que for.

Agora, se você está frente a um chefe intimidador, uma situação de assédio, o animus é perfeito. Porque ele é vigia e sentinela, ele se levanta em defesa da mulher.

Então veja, o animus não é rígido em si. O que acontece é que ele é primeiramente formado pela imagem psicológica do pai. Prazer, cultura machista, pais rígidos e autoritários. E aí sim, entramos na dúvida levantada logo antes. A convenção social, através do pai e da mãe, é assim internalizada e passa a participar da configuração anima/animus.

E aí, para o homem cair nas graças da anima (e deixar de ser aterrorizado por ela), ele precisa desenvolver essa sensibilidade. Por isso surge essa associação com esse aspecto da anima. Interessante, né?

Aliás, lembra que eu falei no começo que o “encantamento” está relacionado com o animus e a anima? Pois bem, quando você está projetando seu animus/anima na outra pessoa, ela parece irresistível para você. É aquela fase do deslumbramento.

Mas a projeção não dura muito não. Depois de um tempo, a gente começa a perceber a real natureza da outra pessoa: são as primeiras “decepções”. Aí a gente percebe que antes estava idealizando o outro (e isso era projeção).

É nessa hora que a gente tem a oportunidade de se relacionar DE VERDADE com o outro, com quem ele REALMENTE é.

E quando a gente se atrai por pessoas que nos machucam? Isso é a desgraça do animus/anima negativos, que estão projetados em outra pessoa. Uma outra forma da gente perceber que existe animus/anima negativos em ação é quando a gente quer muito conquistar quem não nos quer.

Porque veja, você projeta no relacionamento com o outro exatamente como está a sua relação com essa figura interior. Se é uma relação negativa, de rejeição, você se sentirá atraída justamente por quem te rejeita, igualzinho o animus faz com você.

Agora, uma coisa muito legal de animus e anima é que eles nos jogam nessas tretas amorosas infinitas justamente para chamar a nossa atenção. Para que percebamos a sua existência. Porque, na verdade, atrás de cada relacionamento existe uma quantidade gigantesca de aprendizados.

Aqui vai uma dica de milhões (e, evidentemente, é mais fácil falar do que fazer): precisamos mudar nossa forma de ver relacionamentos. Não devemos encará-los como “será que vai dar certo ou não? Será que é a pessoa certa? Será que agora vai?”.

Afinal de contas, você não se incomoda de passar cinco anos fazendo uma faculdade, e não sei mais quantas pós-graduações. Por que isso? Porque você tem consciência que é um aprendizado. Ninguém espera que uma pessoa recém-formada já saiba construir um prédio. Por que com os relacionamentos seria diferente?

Relacionamentos não são loteria. São processos. Um aprendizado que continuará acontecendo até o último dia da sua vida. Porque envolvem lidar com o nosso próprio inconsciente, e sempre terão novos coelhos saindo da cartola.

Pode ser com a mesma pessoa, ou com várias. Por isso a gente sonha tanto com escola, que volta pro ensino médio etc. Porque estamos aqui para aprender.

Voltando para animus e anima, sempre começaremos tendo contato com seu lado negativo. Por quê? Porque é a primeira fase do jogo.

E quando a gente tem a chance de encontrar o lado positivo? Quando, depois de muitas tretas, descobrimos o seguinte segredo: existe uma conexão entre o amoroso e o espiritual. Quem já leu os Cânticos vai perceber como são eróticos. E não há algo de divino no êxtase do orgasmo?

O animus e a anima são guias no caminho do amor… e também são guias espirituais. Quando os reconhecemos como tal, a coisa muda. Assumirmos que a nossa vida é, antes de tudo, uma jornada espiritual, e que cada companheiro romântico faz parte dessa jornada, tem um poder tremendo.

Então conseguimos ser gratos até a/ao ex mais estúpido, porque ele/a nos fez crescer.

Agora, como tirar o animus/anima do polo negativo para o positivo, e assim permitir que eles atuem como verdadeiros guardiões, curando seus relacionamentos ou desfazendo o campo de repulsão que vem impedindo que se estabeleça aquela conexão de alma em sua vida?

Essa é a principal missão do Maestria do Amor. Descobrir como manter uma relação saudável com seus animus/anima, e assim estender esse campo positivo para todos os relacionamentos da sua vida – transformando os pontos de conflito em pontos de conexão.

E isso ajuda a “arrumar” muitas das tretas comuns nos relacionamentos, seja primeiro encontro ou bodas de prata. Podem ser desde pequenos atritos até grandes crises.

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