Algumas situações de vida merecem uma atenção especial. E nesse texto vou compartilhar com você algo muito sério, que vale uma mensalidade do MBA mais top que tiver.
Digamos que você está com um advogado, um vendedor, um contador etc, numa reunião de negócios. Ou então com um/a crush sedutor/a. Qualquer coisa que envolva especialmente questões importantes para você.
E aí você não consegue pensar direito. Fica meio bobo. Vontade de terminar logo aquilo. “Sim, sim, ok, ok, vamos fechar o contrato nesse valor, então, ok.”
Se você se perceber em um cenário desses, é preciso parar e prestar muita atenção. Porque é nessa hora que tudo vai pro buraco. Por isso, jamais feche qualquer negócio com a sensação de cabeça enevoada. Ou empreste dinheiro, ou convide alguém para sua casa, o que for. JAMAIS.
Mas o que é isso? Isso é típico do trickster. Ele causa confusão.
Agora, o que é trickster?
Trickster é um arquétipo que age nas crenças, nos julgamentos, nas decisões, que nos ludibria e nos engana por caminhos tortos, mas ao mesmo tempo também nos conduz ao conhecimento, ao aprendizado.
É a figura do trapaceiro, todas as culturas têm um. Loki, Coringa, coiote americano, e até o típico malandro brasileiro.
Vamos pegar um exemplo para ficar mais fácil. Imagine que você está num casamento que até é ok, mas passa por um período sem paixão, sem tesão, sem novidades. E aí surge uma fantasia de “vou me separar, viajar, me divertir, namorar outras pessoas, me apaixonar novamente”.
Então te vem um sonho clássico de trickster. Alguém no sonho (conhecido ou desconhecido) está mentindo, tentando te ludibriar. Há um golpe ou trapaça em curso.
Pronto, você já sabe que está sendo enganado. Aqui temos duas opções:
A primeira: você não entende nada de sonhos, nunca leu nenhum conteúdo daqui, desconsidera esse aviso do inconsciente e se divorcia. Daí vê que não é nada daquilo da sua fantasia, se arrepende, come o pão que o diabo amassou, recomeça a vida, e em 1 ano você é uma pessoa muito melhor do que antes. E com uma vida muito melhor.
A segunda: você lida diretamente com o trickster e você não passa pelo perrengue da primeira opção. “Certo, por que a trapaça? O que a minha arrogância e o meu ego não estão me deixando ver?” (Talvez o relacionamento esteja frio porque você não se dedicou a cultivá-lo.)
Por isso nunca deixe esse recado do inconsciente de lado. Apareceu o trickster no sonho? É o seu radar interno te avisando. Você está fazendo algum tipo de leitura errada da situação. O trickster aparece nos sonhos quando estamos nos enganando.
Se você está entrando num relacionamento, se está fazendo algum tipo de acordo profissional, comprando um imóvel, enfim, qualquer coisa que envolva uma DECISÃO sua e aparece o trickster? É melhor dar uma parada e rever os passos.
Então veja, entender que existe o trickster é entender que existe o mal. E as trapaças. Mas que também existe autodefesa. É pegar o engano “no pulo”. Entender que existe vida psicológica forte e fraca. O caminho curto da consciência e o caminho longo do sofrimento. E que aquilo que é ruim também vem para tempos melhores.
O trickster torna a vida muito mais complexa. Você não consegue lidar com ele se você for muito cabeça fechada, do tipo “isso está certo, isso está errado”.
E você também não consegue lidar com ele se for muito ambicioso. Se for arrogante. Se achar que não tem trabalho psicológico a ser feito.
Por isso a representação do Coringa: o trickster vira o jogo.
A boa notícia é que existe um segredo para lidar com o trickster, no maior estilo “sindicato dos ladrões”: também ser um pouco trickster.
Aquela máxima de “um ladrão reconhece o outro”.
Então é muito importante manter essa conexão com o arquétipo. Mas como fazer isso na prática?
A melhor forma de NÃO cair na teia do trickster lá fora é com a ajuda do trickster lá dentro. E não, como você deve ter imaginado, isso não significa agirmos como ele. Estamos falando aqui de consciência.
E quem é o trickster em nós?
Primeira coisa: procure aquele aspecto seu que não leva as coisas muito a sério.
Segundo: para acharmos o trickster interno, precisamos entrar no mundo dele. Nessa “atmosfera psicológica”.
Pense em Hermes, viajante, deus dos caminhos. Ele não tem parada certa. Não tem certo e errado na vida. É aquele lado nosso que pensa “hoje não vou trabalhar”. Aquele lado que não faz questão de fazer a mesma coisa todos os dias. Que adora a ideia de começar algo novo, inventar.
A maioria de nós, no geral, tem um lado bem certinho: “Deus me livre de chegar atrasado / Não entregar o prometido / Faltar o compromisso”.
Só que disso a gente a gente pula muito fácil para ficarmos cada vez mais rígidos, neuróticos e julgadores.
Resumindo:
1. Não leve as coisas tão a sério.
2. Se habitue a não julgar.
Por exemplo, é muito fácil cair no julgamento “como que fulano tem coragem de entregar algo tão mal feito?”.
Nessas horas, lembro sempre de um professor meu que disse: “vocês precisam aprender a fazer as coisas nas coxas. Ficam com esse desespero todo por causa de um trabalhinho ou uma provinha”.
Sim, é assim que a gente se conecta com o trickster em nós. Que a gente aprende a ser um pouco trickster.
Aquele trabalho/projeto para entregar que não vai mudar em nada na sua vida: faz rapidinho. E aproveita o tempo livre para ver um filme gostoso. Ler um livro delícia. Alimentar seu mundo interno.
Ou escapar daquele encontro chato de família que você não quer ir, porque você está mais a fim de ir tomar um sorvete.
Você também se conecta com o trickster quando começar a encarar com naturalidade a ideia de “se eu por acaso perder meu emprego, ou meu casamento, dou um jeito, me viro, sempre me virei, não vou perder o sono por isso”.
Então, de novo: não se leve tão a sério. Nem tudo é “ganhar ou perder”. Isso aqui não é mais o colégio, e você não vai ganhar nota pelo bom comportamento.
E aí, quando entramos nessa vida psicológica mais fluida e aventureira, percebemos melhor o trickster nos outros. Por exemplo, quando o amigo desmarca o encontro e inventa uma desculpa qualquer porque ele está com preguiça. E tudo bem. Você não fica irritado porque também já fez isso.
Ou seja, nem tudo na vida é tão importante quanto achamos que é. Na verdade, uma boa parte das coisas que a gente faz é total perda de tempo. Muitos encontros de família vazios, muitas reuniões enroladas, e por aí vai.
Agora veja o pulo do gato: muitas vezes, inconscientemente, temos inveja do trickster. Da sua liberdade. Eu também ficava: “gente, como que fulano consegue falar um absurdo desses, na cara de pau, e ainda dormir bem?”.
Por isso, é essencial que na sua vida você também se sinta livre. Que você sinta que pode desmarcar todos os compromissos e ir pro parque. Não que você vá fazer isso. É só a sensação de “poder fazer”.
Preparado para lidar com o trickster no dia a dia? Agora compartilhe esse texto com aquela pessoa que está precisando conhecer essa figura do inconsciente.