Existem alguns conceitos muito discretos, algumas meia-verdades, que acabam passando pelo nosso filtro e que promovem as nossas maiores dificuldades nas tramas sutis.
Não são exatamente traumas. São crenças. Por exemplo, “não tenho mais idade para isso, não tenho tempo, não consigo prosperar” são alguns dos pensamentos que vez ou outra passam pela nossa cabeça e travam nosso crescimento. São comumente chamados de crenças limitantes.
Mas vamos começar pelo começo, com a definição básica do que é crença limitante.
Para início de conversa, todos nós funcionamos na base da crença. Não tem como escapar muito disso.
Como assim? Vejamos: como o cérebro trabalha com algo que ainda não aconteceu? Ele constrói premissas. Regras. Cria primeiro no “simulador” mental antes de partir para a vida real (veja que todas essas tretas de crenças limitantes se referem a eventos futuros: “vou arranjar alguém? Vou ser rico e bem-sucedido?” Etc).
Por isso é MUITO importante termos um bom simulador lá dentro.
Você percebe isso operando na sua cabeça o tempo todo. “Opção 1: vou terminar com o João e ficar com o Paulo. Putz, mas o Paulo é chato, não vai dar certo. Ok, vamos tentar de outro jeito. Opção 2: vou dar um chega pra lá no Paulo…” e assim vai.
E o simulador funciona com base no quê? Claro, em crenças.
Por isso, mudar crenças é um pouquinho mais complicado do que parece. O cérebro precisa delas para ir operando no simuladorzinho. É que nem um computador: ele só funciona se tiver programas instalados nele. Sem programas, o computador não faz nada.
Agora, qual é o pulo do gato? Você só consegue tirar uma crença se tiver outra para pôr no lugar. Uma que seja tão sólida e consistente quanto a anterior.
Já que não tem como ficar livre das crenças, temos ao menos que lembrar de estar sempre as “atualizando”. Melhorando esse sistema de simulação.
E qual o melhor indício de que está na hora de mudá-las? Uma crença se torna limitante quando ela começa a machucar. Quando passa a gerar sofrimento.
Ou seja, por trás de cada crença limitante, existe uma perspectiva que precisamos mudar. É como se tivéssemos uma vozinha lá dentro dizendo: você está vendo isso errado. É que nem estar caminhando na rua e dar de cara com um muro. A gente não o atravessa. A gente o contorna.
Na crença limitante há um conflito direto entre nosso Ego e nosso Self (ou Eu Superior, nossa sabedoria profunda).
Por exemplo, nosso Ego (e nosso orgulho) acha o máximo ser uma maquininha de produtividade (mesmo que uma boa parte dessa produtividade não renda nada muito importante). Nosso Self mais profundo não vê sentido nenhum nisso.
Adivinha quem é mais forte? Quem ganha? O Ego ou o Self? O Self, é ÓBVIO. Ele é a nossa centelha divina, conhece nosso verdadeiro caminho de evolução.
Essa é outra forma de olhar a crença limitante. Ela aparece quando esquecemos o sentido maior da nossa vida. Estamos aqui para aprender e evoluir.
Quando a gente deixa isso de lado e começa a se apegar nas coisas “menores”, ela aparece. Bem faceira.
E aí você pode pensar: até certo ponto toda crença é limitante? Por exemplo, ter a crença de receber 5 mil ou 30 mil. A última parece fortalecedora, mas, nessa perspectiva, limita a pessoa para não receber 100 mil.
É isso mesmo. Toda crença é, em sua essência, limitante, justamente por conta do nosso simulador cerebral.
Só que tem um detalhe. Digamos que esteja caindo um mundo d’água lá fora: “como vou de casa ao trabalho nessa chuva?”. Bom, voar não é uma opção. Daí “tenho uma crença limitante que não posso voar” não soa bem, né?
Então, para fins práticos, vamos colocar o termo “limitante” na medida que passamos a perceber que elas estão apertadas. Que estão machucando. Atrapalhando. Temos que lidar com aquilo. Logo. Descobrir o furo.
E sim, uma crença que antes era ótima pode se tornar limitante mais tarde. Claro, você está crescendo.
Agora, o detalhe que ninguém conta é que o cérebro pode ser atualizado. Na verdade, ele DEVE ser atualizado. O design dele foi feito para isso, para que fôssemos fazendo melhorias ao longo do tempo. Não para deixar como está, com as mesmas crenças que enfiaram na nossa cabeça quando tínhamos 10 anos.
O que você talvez não saiba é que o cérebro está sempre fazendo essas “atualizações”, só que de forma automática. Então precisamos ficar de olho. Quando NÓS tomamos conta da “casinha”, aí sim é outra história.
O ponto de atenção aqui é que esses downloads “automáticos” de crenças são feitos através de tudo o que absorve sua atenção. Por exemplo, esse humilde blog é um poderoso reformulador de crenças.
Aliás, para saber como está a qualidade “nutricional” da sua vida psicológica é só dar uma olhada em quem você segue. Quanto tempo você passa vendo esses conteúdos.
A gente não se dá conta direito, mas onde você gasta sua atenção é o parâmetro que o seu cérebro usa para definir o que é importante para você.
Imagine que você segue muita gente que reclama que a vida é difícil e injusta. E você lê notícias que reforçam isso. Daí você vai para um encontro familiar que todo mundo fala isso. E no trabalho, idem.
E aí, o seu cérebro faz o quê? “Bom, se ela ESCOLHEU seguir esse povo e conversar com aquele outro povo, então pelo visto ela prefere reforçar essas crenças. São as mais importantes no momento.”
Quanto mais consciência você tem, menor é o dano, claro.
Mas eu sugiro o seguinte (só para botar ordem na casa mesmo): selecione o povo que você precisa conviver no dia a dia porque não tem opção – e então corte pela metade. Agora estamos chegando perto das pessoas que não temos opção MESMO. E aí coloque uma bandeira amarela em cima dessas pessoas. Tipo: “alerta! Não absorver!”.
Agora vamos ao seu Instagram. Aí não tem desculpa, né? Siga pessoas que você admire, que expressem o sistema de crenças que você DESEJA para você.
Atenção especialmente para quem você assume como referência. Fico só de olho em você seguir “blogueyras” com aquele corpão mara, e aí reclamar que o seu corpo é feio. Ou gente pseudo-feliz nas mídias, com seus amores-para-todo-sempre-só-nesse-fim-de-semana… e aí sentir que sua vida amorosa é um vácuo.
Então, o primeiro passo é esse: mudar a frequência.
Mas tem uma boa notícia: temos uma ferramenta poderosa na hora de construir crenças. Um negocinho chamado inspiração.
Uma única boa referência/pessoa/notícia, o que for, uma única “não precisa ser assim”, que você reviva mentalmente muitas vezes, dá um up nas novas crenças desejadas que você não tem ideia.
E aí, entra meu pulo do gato, com um pouquinho de neurologia e mais um materialzinho do Sr. Jung: não precisa ser a história da vizinha. Que bom, se puder ser. Mas você tem uma outra fonte, que funciona tão bem quanto (ou ainda mais): as histórias. Os mitos. As lendas. Os livros e contos de fadas.
Agora é hora de colocar a mão na massa e começar o trabalho de mudança de crenças!
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