Quem aqui nunca acordou de manhã com “meu Deus, o que foi esse sonho?”. Do tipo: sonhei que estava pelado. Sonhei que não conseguia me mexer. Sonhei que eu tentava falar e minha voz não saía.
Você já teve sonhos assim?
Tem uns sonhos que parece que eles dão um “tuc tuc” na nossa cabeça, que é como se eles sussurrassem: “me interprete! Você precisa me interpretar!”.
Aí você anda, vai fazer as coisas do dia a dia e fica com aquele negócio “me interprete”, o sonho fica te incomodando.
Esses são sonhos comuns que nós temos. Agora, a grande pergunta é: de onde eles vêm? Para responder isso, vamos entender como os sonhos acontecem dentro do nosso cérebro.
Acho que a melhor forma da gente compreender isso é enxergar o nosso cérebro como uma antena de recepção, como se fosse um wi-fi. O sonho está na nuvem, no material psíquico do seu inconsciente. Daí, seu cérebro, como uma antena, vai baixar o arquivo do seu sonho.
E sim, mesmo que você não lembre, você sonha toda noite, muitas vezes por noite, inclusive, sabia disso? O cérebro está baixando esses arquivos toda noite.
Só que baixar o arquivo não significa conseguir “abrir o material” depois, que é o lembrar do sonho. Isso vai depender muito de como ele foi “baixado”, de como ele foi armazenado pelo cérebro.
Ou seja, quando nós falamos de sonhos, nós temos dois trabalhos a fazer, duas tarefas.
A primeira é baixar e conseguir abrir o arquivo, de uma forma que a gente consiga ao menos falar, em palavras, o que foi essa bagunça que apareceu no sonho. E a segunda é entender, interpretar o conteúdo daquele sonho, identificar se tem alguma mensagem ali. E, se tiver, qual é essa mensagem.
Porque os sonhos são certeiros. Eles parecem desorganizados para nós, mas eles não são. Na verdade, os sonhos são extremamente organizados, extremamente metódicos, eles só seguem um “cronograma” muito maior do que a nossa percepção capta de primeira.
Os sonhos vêm de um lugar do inconsciente, o que estamos comparando à “nuvem”, e podem trazer importantes processos internos de cura.
Certo, então a gente tem que começar por essa coisa de “baixar e abrir” o arquivo, evitando, assim, aquela sensação de sonhar muito e não conseguir lembrar. E nessas horas o que ajuda é entender o padrão do sonho.
Quando você dorme, você tem um ciclo de sono. A primeira fase é chamada sonolência, que é quando você está quase caindo no sono, começam a vir imagens e aí você dorme.
Depois você tem uma fase chamada sono leve, que é uma fase em que você já está dormindo, mas acorda fácil. Se alguém te incomodar, puxar, cutucar, você logo desperta.
A terceira fase é chamada sono profundo, que é um sono extremamente importante. É um sono em que acontece todo um processo de regeneração celular, regeneração neuronal, rejuvenescimento e mais uma porção de coisas que nós não conhecemos ainda.
Nessa fase do sono profundo, se alguém te cutucar, ou se o despertador tocar, você acorda mal. Aquela coisa meio “quem sou eu, onde eu estou?”. Dá uma sensação pesada, parece que você não consegue despertar direito pelo resto do dia. Isso acontece porque no meio do sono profundo o cérebro não está pronto para acordar.
E aí, depois do sono profundo, você vai para uma fase chamada sono REM. É aqui que acontecem os sonhos, e nessa fase o cérebro está super ativo, como se você estivesse acordado.
A diferença é que vai ter um bloqueio neurológico na região do tronco que vai impedir que seu corpo se mexa. Senão você ia fazer tudo o que você estivesse sonhando. Sonhou que estava correndo? Você iria correr pelo quarto. Sonhou que estava dando cambalhotas? Lá iria você fazer isso.
Então tem esse botão de “desligar”, que faz uma atonia, e o corpo não se mexe.
“Fran, quer dizer que o cérebro durante os sonhos é exatamente igual ao cérebro quando estamos acordados?” Não. Ele fica muito ativo sim, só que de um jeito à parte.
Mas, afinal de contas, como “baixar” e acessar melhor o arquivo dos sonhos?
Bom, tem gente que sonha muito e lembra muito dos sonhos. Eu chamo essas pessoas de imagéticas. Elas têm uma capacidade de registro visual dos sonhos, de determinadas áreas do córtex occipital, que é o da visão, mais refinadas.
Agora, se elas vão interpretar tudo isso, é outra história.
Mas a maioria de nós não tem essa coisa de lembrar de trocentos sonhos. A maioria de nós lembra às vezes. O que acontece com a gente, então?
Quando você termina a fase de sonho (sono REM), você entra numa fase de sono superficial. E durante uma noite, nós fazemos pelo menos uns cinco desses ciclos.
Acontece que nós temos uma ação de neurotransmissores numa região chamada hipocampo, que parece um cavalo marinho (hipo significa cavalo, por isso esse nome), e ele trabalha com registro de memória.
Só que as coisas que acontecem no sonho vão pro hipocampo e ficam só uns minutinhos lá, igual ao que acontece quando alguém te fala um número de telefone. Se você for repetir, na hora você até consegue. Mas se passar mais tempo, você não lembra de absolutamente nada.
Essa é a memória de curtíssimo prazo, e é por isso que muitas vezes a gente não lembra de nada do que a gente sonha
Então, se você quer muito lembrar dos seus sonhos, algo como “meu Deus do céu, estou com um BO na vida, e preciso de um sonho que me ajude”, existem algumas coisas que vão te ajudar a acessar esse “download da nuvem”.
A primeira dica é um truque meio baixaria, que é tomar muita água antes de dormir. Porque veja, o que vai acontecer?
A sua bexiga vai ficar cheia, vai começar a incomodar. Só que o seu cérebro, durante o sono profundo, vai deixar a bexiga para lá, ele vai falar: “pera, preciso focar em coisas importantes”.
Mas depois dessa fase, o sono passa para um estágio mais superficial, e aí vem a hora que as necessidades do corpo acordam a gente. Esse é exatamente o momento pós-fase REM, pós-fase de sonho. Então, quando você acorda para fazer seu bendito xixi, o sonho está bonitinho na sua cabeça.
A segunda dica está relacionada à qualidade do seu aconchego na hora de dormir (e de acordar): cuide com carinho do período antes de dormir e logo após acordar.
Porque um dos nossos grandes inimigos nessa hora é o estresse. E quando falamos em estresse, estão envolvidos o hormônio cortisol e um neurotransmissor associado a ele, a noradrenalina, que no corpo é a adrenalina. E aí o que eles fazem?
Quando nós estamos preocupados, a adrenalina vai sendo liberada no seu sistema. O problema é que ela tem vários efeitos no corpo, e um deles é apagar a memória.
Então, quando você está com seu hipocampo com um sonho quentinho, e acorda preocupado “meu Deus, hoje eu tenho que resolver mil coisas”, ou então “nossa, estou atrasado”, você já soltou uma rajada de adrenalina no sistema e acaba perdendo a mensagem do sonho.
Por fim, a terceira dica que eu quero que você faça é: ao acordar, reconte o sonho para si mesmo. E por que isso?
Bom, vamos enxergar o nosso cérebro como hemisfério direito e hemisfério esquerdo. Grosso modo, pois não é uma coisa tão definida, o hemisfério esquerdo, que tem a linguagem, acaba se tornando dominante, trabalha mais o racional.
Já o hemisfério direito vai trabalhar mais o material de imagens, mais a intuição.
E quando nós estamos sonhando, a área que mais se ativa no cérebro todo é o temporal direito. Essa é a região que entende as metáforas, as piadas, os poemas, a melodia de uma música… ou seja, percebe a conexão que temos aqui?
O sonho fala através de metáforas, é poético, tem melodia própria. Essa é a parte que entende uma outra linguagem. Então o sonho é isso: ele não é uma adivinhação, mas sim como aprender uma outra língua. O idioma do seu interior.
Então, quando você acorda, todo aquele conteúdo do hemisfério direito (imagens, energias, sensações etc) precisa passar pro esquerdo. Porque aí o esquerdo vai organizar todo aquele novelo energético em uma história.
E como o cérebro faz o que você manda ele fazer, ele se desenvolve à medida que o utilizamos. Assim, quanto mais você faz isso, quanto mais você reconta o sonho para si mesmo, que mensagem você está passando pro seu cérebro?
Que você vai precisar aumentar o número de sinapses, de conexões, entre um hemisfério e outro. E essas conexões inter-hemisféricas são fundamentais para um “upgrade” do nosso cérebro, para uma base muito mais robusta de sinapses.
Que saibam conectar os nossos processos intuitivos com os nossos processos investigativos. E isso nós vamos usar não só para entender os sonhos, mas para tudo na vida.
E aí, lembrou de alguém que quer lembrar melhor dos sonhos? Compartilha esse texto com essa pessoa!