Uma das perguntas mais estranhas e decisivas que temos que fazer a todo momento é: “Isso que está na minha frente é uma questão concreta ou simbólica?”
Soa estranho né? Mas é ABSURDAMENTE essencial. Porque a gente não aprendeu isso na escola. E isso rege com força a nossa vida. Esse é o assunto mais difícil, mas não tem como escapar, pois é o mais importante. Senão, a gente faz uma confusão tremenda.
É o seguinte: existem coisas da nossa vida que são concretas. E existem coisas da nossa vida que são… simbólicas.
“Ahn? Como assim coisas simbólicas?”
Vou começar contando como eu comecei a aprender (e a levar a sério) sobre esse material simbólico. Como médica e neurologista, eu atendia condições emocionais o tempo todo. Um exemplo dos (muitos) casos era o seguinte: uma paciente me dizia que tinha uma bola na garganta. Fizemos todos os exames possíveis, mas não encontramos nada de anormal.
Mas ela continuava sofrendo com a tal bola na garganta. Nós sabemos que esse é um sintoma clássico de ansiedade. Eu tratei de acordo. Melhorou, mas ainda não resolveu totalmente.
Um belo dia, a paciente me procura, pior do que nunca. Eu pergunto o que aconteceu. “Tive uma discussão com meus pais. Eles disseram vários absurdos, mas tive que engolir, para não ser ofensiva com eles”.
Opa! Engolir? Eu até brinquei: “Quer dizer que está entalado na garganta, né?”. Ela olhou para mim, surpresa, e disse: “Caramba! É isso mesmo!”
O que era isso? Um SINTOMA SIMBÓLICO. Não era a garganta com seus músculos e ossos que estava com problema. Era o material emocional “entalado” que estava causando aquilo.
Para essa moça, entender o que realmente estava por trás daquele sintoma a ajudou muito. Ela levou isso para a terapia dela, o que rendeu vários insights.
A gente fala sobre material simbólico o tempo todo. O TEMPO TODO.
“Ele foi embora, levou um pedaço de mim.”
“Me sinto fraco/a.”
“Me sinto pequeno/a.”
Mas como pequeno? A altura não mudou!
Acontece que a pessoa não está falando do tamanho literal dela, em centímetros. Na verdade, ela está dizendo: “Me sinto como se eu fosse pequeno/a em comparação aos outros”. É esse “como se” que indica que temos um material simbólico em ação.
Tá, e daí? E daí que coisas concretas precisam ser resolvidas de forma concreta, e coisas simbólicas precisam ser resolvidas de forma simbólica. Se você entende isso, sério, você descomplica TANTA coisa.
Imagine você em frente ao seu guarda-roupa. Se você vai sair para comprar pão, qualquer roupa serve. Mas se é para uma reunião difícil, a coisa muda de figura: você quer uma roupa que te passe poder e autoconfiança.
Então você não está atrás de uma roupa de tecido, mas de uma roupa simbólica. Se você não entende isso, vai gastar horrores na marca X que promete justamente isso (porque o marketing entende muito disso, mesmo que você não).
Onde você vai arrumar uma roupa simbólica? Ou começar a entender um sintoma seu que é simbólico? ESTUDANDO MATERIAL SIMBÓLICO.
É isso que eu quero passar para você. Quando a gente fala de alquimia, de mitologia, desse papo todo, é para aumentar esse seu repertório simbólico. E aí é importante não levar pro lado literal, não misturar com as coisas concretas da nossa vida, combinado?
Entendendo que a verdadeira linguagem do inconsciente é simbólica (através de símbolos), se aprendemos essa linguagem, somos livres para CONDUZIR o nosso processo. Fazer do nosso jeito. Senão, acabamos presos em nossas próprias limitações, como acontece com a imensa maioria das pessoas.
2 comentários em “Porque levar a sério esse papo de material simbólico”
Uauuuu
Amando os textos 💗