Outro dia a gente conversou sobre como a neurociência e a mitologia podem te ajudar a desempacar na vida. Hoje a gente vai colocar um pouco mais o pezinho nesse assunto que é tão fascinante: a mitologia.
Os antigos sabiam o que faziam. Perceberam as forças do inconsciente que influenciavam nossas vidas, e as chamaram de deuses. Se essa influência é para o bem ou para o mal, depende do nosso grau de consciência. E nós os servimos, sabendo disso ou não.
As clínicas de cirurgia plástica estão cheias de servas de Afrodite. Hera, a deusa do status quo e do “o que os outros vão pensar”, está em cada socialite. Os que buscam a justiça e o bem-estar social são protegidos de Atena. E os que amam a ciência lógica e exata servem a Apolo.
Às vezes eu recebo directs perguntando se há alguma forma de controlar certas emoções loucas, hábitos ruins, pensamentos indesejados, “bugs” do cérebro.
Se você está numa situação dessas, em que as coisas estão fugindo do seu controle, pode ter certeza: uma força do inconsciente está em ação. Se quisermos sair dessa, temos que começar assumindo que o problema não está na vida prática, mas no mundo simbólico. No reino dos deuses.
Nossa natureza é simbólica. Fugir ou ignorar esse mundo só aumenta o poder dele sobre nós.
Quer ver?
Quanto mais você tenta fazer dieta na marra, mais acaba piorando a compulsão alimentar. Você está lutando contra uma depressão e tentando levar a vida o melhor que pode, como se ela não existisse? O mais provável é que ela te afunde cada vez mais.
Lutar contra a ansiedade, contra o perfeccionismo, contra o desânimo, contra a compulsão: são lutas de homens contra deuses. Não dá.
O que fazer então? Como a gente resolve?
Nosso trabalho é despertar a força contrária àquela que nos oprime. E aí deixa de ser uma luta de homens contra deuses, para ser de deuses contra deuses.
Luta de mortais contra deuses… Se não podemos vencê-los, então como continuar as batalhas? Apenas aceitando que eles são como são e convivendo com eles?
O segredo aqui (mas fazer é mais difícil que falar) é alimentar a força oposta, o positivo. E não bater de frente. Focar no que a gente não consegue acaba gerando ansiedade e frustração!
A ira e a raiva de Ares só podem ser vencidas pela disciplina e autocontrole de Atena.
A ansiedade e o perfeccionismo, o lado negativo de Apolo, só podem ser equilibrados pelo seu irmão Hermes, com seus pés alados: o deus da leveza e dos caminhos. E dos ladrões. Por isso que pessoas ansiosas sonham tanto com atrasos e roubos. Os sonhos sempre tentam mostrar qual a força certa a ser convocada.
Muitas vezes somos escravos de padrões, e acabamos ansiosos e cheios de decepções! É aqui que entra o poder dos mitos: mitos sempre nos ajudam a entender melhor a nós mesmos, esclarecem muita coisa no nosso comportamento.
Cada mito tem sua própria nuance, e todas são valiosas. Eles são forças vivas que podem (e devem) ser invocados. É por isso que mitos precisam ser lidos não só com a cabeça, mas com o sentimento: eles são rituais antigos de invocação.
Os mitos dos gregos estão cheios de histórias trágicas do que acontece quando um humano assumia um papel que só cabia aos deuses.
Quem não lembra da história de Helena de Tróia, considerada mais bela que as deusas, que desencadeou uma guerra? Ou do pobre Ícaro, que achou que podia dar uma de Apolo e subir aos céus, bem perto do sol, e acabou derretendo suas asinhas?
Os deuses são representações de verdadeiras forças do inconsciente. Mas fomos perdendo o contato com essas energias, nos tornamos uma cultura sem deuses. Somos ignorantes do poder do inconsciente.
E assim essas forças agem de modo oculto. E quanto mais desconhecidos, mais perigosos.
É por isso que vamos começar a voltar nosso olhar pros mitos dos deuses e deusas, a partir de agora. Para resgatarmos a conexão com essas forças vivas e nos reconectarmos à nossa jornada interna.
Agora que você já sabe que existem padrões ocultos do seu inconsciente que podem te inspirar ou bloquear aspectos da sua vida, chegou a hora de saber que padrões são esses que estão em ação! Qual deus/a está dando as caras por aí?