Todo mundo já passou ou vai passar por uma crise na vida. É algo natural no nosso processo de aprendizado aqui na Terra. Agora, o que precisamos saber é: nós temos que nos esforçar ou sofrer muito até conseguir sair da crise?
Essa pergunta pode surgir porque às vezes parece sempre ter um período longo de dificuldade, sofrimento, e só depois desse “fundo do poço” é possível viver com leveza e abundância.
Na verdade, isso é a Jornada do Herói. É um caminho interno, em que as dificuldades enfrentadas, na verdade, são a força oculta. O Herói briga, esperneia, mas precisa entrar no “mundo das sombras” para sair Renascido.
E é assim na vida? É assim. Mas isso significa sofrimento? Claro que não. Mas não mesmo. A sofrência está DEMITIDA dessa história.
O que acontece é que o sofrimento vem quando não aceitamos as fases da jornada. Ficamos brigando contra a transformação, em vez de simplesmente permitir que ela venha.
Crise é mudança. E crise é essencial na vida. Estaremos sempre em crise, porque estamos sempre rompendo padrões e buscando níveis mais altos de liberdade.
Mas a crise só vira sofrimento quando ela emperra. Quando a gente não deixa fluir. Eu já vivi isso, de crises sofridas. Você também. Mas chega disso.
O jogo muda, geralmente, quando você está num ponto da sua jornada que não aguenta mais passar perrengue. E aí quer mudar aquela situação, mas ao mesmo tempo não sabe COMO. Então vem a questão: como virar o jogo?
Aqui posso trazer meu exemplo. A virada de chave na minha vida aconteceu no momento em que eu decidi que não queria mais aquela antiga vida para mim. Na época, eu não tinha essa percepção, mas aquele foi um ponto de virada.
Eu não via absolutamente nenhuma saída para o modo no qual eu vivia. Todas elas envolviam trocar seis por meia dúzia, ou mais estresse ainda.
Mas a primeira coisa que hoje eu percebo que fez toda a diferença é que mesmo com uma intensa sofrência, eu percebia na época que certos caminhos (que a maioria seguia) não me tirariam daquele estado de sofrimento.
No meu caso, as opções que eu via eram:
Opção 1: fazer um mestrado/doutorado. Mas percebi que além de gastar uma energia imensa, não ia mudar o que eu precisava que mudasse.
Opção 2: puxar o saco dos poderosos do hospital. Eu ia crescer e ganhar mais. Mas ao mesmo tempo me dava uma aversão.
Opção 3: mudar de cidade. Pensei que morar na praia, ser médica de interior, ia me dar a tranquilidade e a paz que eu tanto queria. Eu olhava todo dia se tinha algum concurso para essas cidadezinhas.
Mas comecei a perceber que eu também enfrentaria inúmeros desafios diferentes, porque médico de interior tem que fazer de tudo um pouco. E enquanto eu não achava “a cidadezinha certa”, o tempo ia passando.
Opção 4: fazer parte de uma coisa que estava despontando na época. Monitorização infra-operatória. Pagava esplendidamente bem, eu tinha a qualificação exigida (você talvez não saiba, mas também sou neurofisiologista). Só que tinham dois problemas.
Um, eu ficava na dependência da agenda do cirurgião. Dois, eu achava um porre trabalhar com isso.
Foi nessa época, em que eu não me decidia por nenhum desses caminhos “brilhantes”, que comecei a fazer a pós em terapia junguiana.
Foi difícil. Primeiro, porque eu entrei “verde”. A maioria ali era psicólogo, tinha uma base, já tinha estudado algo sobre o assunto. Eu mal e mal tinha lido alguma coisa de Jung (exceto a biografia dele) e não entendia NADA.
Então, foi um ataque pro meu ego. Eu me sentia andando dez passos para trás. Porque veja, eu dava aula como convidada para algumas pós médicas, para daí sair dali e virar aluninha em outra pós. Pro meu ego rígido da época, isso era bizarro.
Daí chegou um momento da pós que entrei em outro tipo de crise. Agora eu já estava entendendo mais o assunto. E o problema era: eu estava amando aquilo. Amava tanto que doía. E isso me fazia odiar ainda mais a minha vida como médica.
Perceba aqui uma coisa (que só HOJE fica claro para mim): toda essa jornada foi de sucessivos golpes no meu orgulho. Porque eu tinha sempre que entrar em algo que eu não dominava. Sempre ativava minha insegurança.
Mas fui encarando os desafios. E, basicamente, com cada atitude baseada na prosperidade, escolhendo aquilo que aquecia de verdade meu coração, eu andava três passos para frente. Com cada atitude baseada na escassez, eram três passos para trás.
E perceber isso foi meu segundo ponto de virada (e também pode ser o seu): sempre que eu tomava uma atitude baseada na prosperidade, como fazer uma supervisão mais cara do que eu achava que podia pagar, mais a coisa andava.
E sempre que eu tomava uma atitude baseada na escassez, como valorizar a opinião do chefe, ou trabalhar mais do que eu dava conta, eu retrocedia.
Então começou a ficar claro: eu precisava fazer uma escolha. Ou um estilo de vida, ou outro. Ou prosperidade ou escassez. E aí eu percebi que escolher caminhos diferentes dos que eu vinha tomando até então deu espaço para acontecerem poderosos processos de cura na minha vida.
Ou seja, quando entramos em crise é porque não somos mais a mesma pessoa. É sinal que você evoluiu internamente, você mudou. E ainda não sabe COMO encaixar a nova pessoa que você é numa vida antiga – que não combina mais contigo.
Por isso eu amo a crise. A crise é a mudança, é o criar algo novo. E não, nós não precisamos sofrer na crise. Eu, por exemplo, me vejo sempre em crise. Porque estou sempre querendo criar algo novo. Ser uma pessoa nova.
Mas não precisa de sofrimento.
O sofrimento só vem quando a mudança que precisamos ainda não aconteceu.
Inicialmente, nós sempre vamos sentir a crise como algo externo. Uma área da vida que começa a trazer descontentamento (seja relacionamento, profissão, o que for). Mas não se deixe enganar. A crise vem de dentro. É uma “nova” versão de você que quer muito nascer.
Então nós precisamos das ferramentas internas para conseguirmos colocar essa mudança em prática. Tanto em termos de uma mudança grande como uma pontual. Tanto uma que envolve recomeçar tudo, como aquela que é mais um passo adiante na vida.
Até porque todos esses processos de mudança e evolução têm o mesmo inimigo oculto: a névoa mental. Aquilo que nos impede de ver e entender o que precisa ser feito, como fazer.