Observe ao redor tudo o que te irrita. Pode ser um colega chato do trabalho, a pessoa que fura a fila no supermercado, o trânsito que você enfrenta todo dia, procrastinar demais para fazer as tarefas etc.
Mais do que se tratarem de “apenas situações chatas do dia a dia”, tudo isso nada mais é do que um gancho. Para você trabalhar o seu material interno. Agora, como saber se ali há algum conteúdo do inconsciente ativado que precisa ser trabalhado?
O segredo para você saber se tem algo do seu inconsciente em ação é o quão desproporcional isso aparece para você.
Digamos que tem uma guria lá do seu trabalho que você não suporta. Porque ela é puxa-saco, folgada, fica todo trabalho para você. Como você lida com esse mal-estar que essa menina está te fazendo?
O primeiro passo é entender que o inconsciente é feito de camadas. E a primeira camada é formada pelas nossas sombras. Sombra é, por definição, tudo aquilo que te incomoda, aborrece, desanima.
Ah, essa guria aí que você falou te incomoda? Não importa se é um desconforto pequenininho, ou se é aquela coisa que você fala: “Cara, preciso pegar essa guria pelo pescoço, senão não vou ficar em paz”.
Tudo bem, temos aí gradações de desconforto. Mas incomodou? Pode olhar que alguma coisa do seu inconsciente pessoal está apitando.
“Mas, Fran, o que pode ser? Porque eu sou uma pessoa trabalhadora, sou uma pessoa legal, sou honesta, enfim. Por que aquela pessoa me incomoda?”
Vamos ver primeiro que tipo de incômodo é esse. Eu vou definir como uma sombra pode nos incomodar, e aí você vai ver se é isso que está acontecendo lá no seu trabalho.
A melhor definição de sombra é que quando ela está ativada, ela gasta muito a nossa energia.
Você entrou no trabalho, já viu a pessoa. Daí você começa a sentir uma espécie de sufocamento. Parece que o clima ficou denso ao seu redor, ficou uma coisa apertada. E, ok, você mantém a egípcia, lida com a pessoa educadamente, vai fazer as suas coisas. Só que enquanto isso o teu gasto energético é enorme.
Chegou a metade do dia, não é nem o final, e você já está cansada. No final do dia você está se arrastando. E aí você tem trabalho para entregar, tem projetos, tem coisas que são importantíssimas para você.
E você não tem energia para fazer um super projeto, uma super ideia, uma transição de carreira, coisas importantes, porque a sua energia se esvaiu, foi toda embora lá.
Aliás, uma outra forma do gasto de energia dar as caras, porque essa sombra está ativa, é através do sintoma. Fadiga, exaustão. Ou dor de cabeça, estômago… enfim, é como se o corpo começasse a reclamar.
Então veja, a energia está sendo gasta. Por quê? Bom, se tem uma sombra sua ativa, é sinal que alguma coisa está mal resolvida.
“Tá, Fran, mas ela é realmente chata. Ela é realmente desonesta. Por que o problema é meu?”
Ah, agora é que vem o grande pulo do gato, que está dentro desse nosso trabalho com o inconsciente: a vida concreta lá fora é uma coisa. Só que o seu inconsciente só consegue falar com você através das coisas que acontecem na vida concreta.
Enxergue a sua vida como se fosse um pano de fundo. E aí vão aparecendo os dedinhos, que é o inconsciente colocando tipo: “Fulaninha, olha aí! Aí tem um troço importante para você”.
Então tudo o que nós enxergamos ao nosso redor, vamos supor, é 5% a realidade “tal como
ela é”, se é que isso existe. E o restante dos 95% são questões suas.
Por que é assim? Porque esse é o nosso caminho de aprendizado aqui na Terra. Nós estamos aqui para evoluir. Evoluir camadas de consciência.
E a vida, muito maravilhosa do jeito que é, vai colocar, no concreto do nosso dia a dia, todos os passos, todos os pontos absolutamente necessários para a nossa evolução.
Cada pessoa que te irrita, cada desafio profissional, cada mãe chata, cada pai narcisista, cada namorado, namorada, aproveitadores… cada coisa tem um aprendizado oculto por trás.
Essa é a pegada da coisa.
Então vamos descobrir primeiro qual é o aprendizado oculto que a coleguinha chata está te colocando.
O erro mais comum das pessoas aqui é entender: “Ah, se ela é minha sombra, ou seja, é algo meu, e não dela, então quer dizer que eu também sou desonesta? Que eu tenho um lado meu desonesto reprimido?”.
Eu não enxergo assim. Eu acho que essa é uma confusão comum, e que a pessoa emperra no processo dela, e não consegue sair. Mas eu vejo o contrário.
Encare a sombra como uma energia sua que ficou presa. Só que ela deveria fluir. Porque você é energia, você deveria fluir. Mas aí ficou preso.
Por que ficou preso? Provavelmente por conta da educação que você recebeu quando criança, ou de alguma atitude sua que prendeu aquela energia dentro de você. E ela não está conseguindo se soltar. Isso está te fazendo mal. Você está perdendo energia.
Mas que atitude é essa?
É aí que está o pulo do gato.
Será que você, por acaso, não é uma pessoa que se esforça demais? Que se esforça, em excesso, para ser uma boa profissional? Para receber uma boa avaliação, bom conceito dos seus superiores, dos seus clientes, da sua família?
Será que não há, olhando de forma energética, um esforço excessivo da sua parte? Focado não em você, no seu ganho. Mas focado no outro. Na avaliação do outro: o que o outro vai achar de você?
Como se você só fosse merecedora de coisas boas, de crescimento, de promoção, de outras formas da sua vida prosperar, se alguém, hierarquicamente “superior” ou qualquer colega, te veja com bons olhos.
Será que você não fez essa jogada com você? É possível.
Daí a sombra vai te falar o quê? “Ah, você fica P da vida porque aquela lá não faz o mesmo esforço que você. E ela está lá, viva, sobrevivendo.” E você pensa: “Como assim, eu me esforço tanto e ela não? E nós duas estamos, em pé de igualdade!”
Então veja, tudo o que a gente faz em excesso gera desequilíbrio. E nós vamos perceber esse desequilíbrio, sabe como? Como ressentimento.
Por isso que as sombras, todos esses nossos desconfortos, essas coisas que nos pinicam, são essenciais. Porque nós só podemos passar para o nível seguinte da nossa evolução quando nós arrumarmos um pouco a nossa casa. Arrumarmos um pouco essa energia.
Eu vou dar um outro exemplo para você. Que é muito comum ver nos relacionamentos.
Vamos supor que eu, Francis, sou casada com o Gabriel (se você não sabe, o Gabriel existe de verdade). E aí eu, como esposa, muito cuidadosa, muito carinhosa, preparei todo um jantar bonitinho pro Gabriel.
(Isso é bem hipotético, porque eu não cozinho nada. Só para você saber desse detalhe, o cozinheiro é ele. Mas essa é uma situação para fins de estudo.)
Pois bem, eu fui lá e fiz um jantarzinho mimoso. Ele chega. Se esparrama no sofá, liga a TV, mal me dá um oi.
Como é que eu fico? Ressentida.
Eu posso calar fundo meu ressentimento. Talvez eu tenha conceitos, crenças, de que eu tenho que agradar, que eu tenho que ser uma boa esposa, blá blá blá. Mas eu fiz um investimento energético em montar aquele jantar.
E a parte que não está clara para mim é que eu espero um retorno. Se não há um retorno adequado, eu fico mal.
O problema é do Gabriel, que nem me deu bom dia? Ou o problema foi eu que fiz um jantar e me esforcei demais?
Segundo a lógica do inconsciente, é a segunda opção. Eu me esforcei demais. Eu fiz mais pelo outro e tirei um tempo que eu poderia ter ficado lendo um livro, poderia ter ficado assistindo aula sobre o inconsciente. Poderia ter feito alguma coisa por mim. Mas eu fiz pelo outro.
Então o meu equilíbrio interno falou: deu ruim. E aí, quando dá ruim, vem a sombra e eu fico P da vida. Aí eu vou lá ligar para a minha mãe: “Mamãe, ele não se importa comigo!”
Então veja, esse é só um primeiro apanhado para você perceber por que é importante sacar as sombras.
O Gabriel realmente foi mal-educado comigo. Não vamos passar pano para ele, não é essa a intenção. Tudo bem, foi mal-educado, depois nós vamos resolver isso numa conversa de acordo, ok.
Mas naquele momento que eu percebi o meu desconforto, a primeira lição é comigo mesma. A primeira lição é: onde é que eu me desequilibrei?
E agora que temos muito no que pensar, que tal compartilhar esse texto com um amigo que vai adorar saber disso?