Cobrar-se demais, ficar se comparando aos outros, sentir-se incapaz ou achar que não está preparado o suficiente, ansiedade por conseguir resultados, o esgotamento batendo à porta… já passou por isso?
Você não está só. O sentimento de insuficiência e a autocobrança foram uma forma muito bem bolada pelo patriarcado de tirar o nosso poder.
Porque a força motora do patriarcado é que a gente comece a fazer as coisas através do sentimento de falta. Nós nos sentimos insuficientes, fracos. Nós somos pouco, somos limitados.
A partir daí a gente precisa se desdobrar para valer alguma coisa. Precisa sempre estar fazendo algo, sempre fazendo mais. E o que acaba acontecendo é que a gente acaba criando sombras.
Parece um negócio complicado, mas a sombra nada mais é do que uma parte nossa que foi deixada de lado, só isso. Uma parte nossa que não tinha espaço para se encaixar nesse sistema.
E ao criar essa sombra a nossa força se fragmenta.
Quer ver onde isso aparece com força? Na maternidade.
Durante a pandemia, muitas mães se encontraram em situação de desamparo, sem ter rede de apoio para cuidar dos filhos enquanto trabalhavam. Não tinham com quem deixar as crianças e tiveram que dar um jeito de se virar com a cria entre reuniões, lives etc.
E aí, em alguns círculos, acabou surgindo uma idealização de mulheres que faziam live com o bebê pendurado no seio. A supermãe que dá conta de tudo.
Uma coisa é a mulher exercer esse tipo de maternar porque não há outra alternativa. Agora, se ela fizer isso por autocobrança ou cobrança externa, é uma conversa bem diferente. Porque aí vem a sombra da insuficiência.
Esse ditado ridículo de “nasce uma mãe, nasce uma culpa” é pela ativação da sombra.
E não, não pode ser considerado algo recomendável a mãe ter oito braços para cuidar das crias e dar conta de tudo, e as pessoas não podem sair por aí achando que “está tudo bem, é assim mesmo”. Daí quem é mãe se lasca mais ainda.
O que temos que ter em mente, mesmo tendo consciência da sobrecarga da mulher no patriarcado, é que existe uma grande diferença, até neurologicamente falando, em percebermos algo como um problema da situação ou um problema gerado pela nossa insuficiência.
Vou explicar.
Quando uma mãe se vê sobrecarregada em escalas inacreditáveis, isso já é um desafio por si mesmo. Ela vai pedir ajuda das forças superiores e fazer o que puder. E dar sua palhinha no mundo para que esse contexto melhore.
O que ela NÃO precisa fazer é achar que isso é culpa dela, pela insuficiência dela de não ser “boa”. Isso, neurologicamente, é muito estressante.
Citei a maternidade como exemplo, mas o mesmo vale pro trabalho, pros estudos, para aquele monte de tarefas que paralisam…
Aliás, sabe um outro indício dessa nossa autocobrança e sentimento de insuficiência? Ficar muito ansiosa na hora de fazer uma atividade qualquer.
Um exemplo disso aconteceu muito durante o Rev8lução: alunos relatando ansiedade na hora de fazer um exercício que era proposto no curso.
Quando essas coisas acontecem, eu gosto de fazer o seguinte passo a passo: o exercício (ou o trabalho, a maternidade e por aí vai) é, por si mesmo, gerador de ansiedade?
Não, não é. Poucas coisas são, tirando substâncias específicas (cafeína para quem é sensível etc).
Então se essas atividades não são, em essência, geradoras de ansiedade, o que temos aqui? A ativação de um complexo. Algum material interno que sapateia na hora de fazer essas coisas.
Na verdade, se a gente parar para pensar, quando isso acontece é ainda melhor. Afinal, queremos justamente achar os complexos. Para então começar a trabalhar com eles.
Quando o corpo envia algo assim, tipo uma ansiedade ou um sintoma tal, a pergunta que devemos nos fazer é: PARA QUÊ?
“Para quê essa ansiedade? Para achar o complexo? Para encontrar uma forma mais leve de fazer tal coisa?” E por aí a gente vai pensando nas possibilidades.
Só precisamos ter cuidado nessa “investigação”: a resposta precisa ressoar. Nosso corpo reconhece intuitivamente a verdade. Ele vibra quando a vê. Se ressoou, ótimo. Se não, continuamos procurando outros “para quês”.
Então, vamos olhar melhor o complexo. Para poupar tempo, a grande maioria dos complexos tem a autocobrança como base.
Por exemplo, uma intensa expectativa de que se tenha enormes resultados, junto com uma insegurança de “acho que estou fazendo errado”, ou “todo mundo consegue, menos eu” etc.
Quando os complexos começam a saltitar desse jeito, essa é a melhor oportunidade de todas de pegá-los no pulo.
E aí, uma vez que você já tem percepção desse complexo, vamos fazendo experiências. Geralmente, é um PARADIGMA que está pedindo para ser mudado.
“Puxa vida, estou me cobrando demais aqui. Vou testar uma premissa diferente, então: fazer isso só como uma experiência. Só para ver o que acontece. Ah, esse formato não está legal para mim, acho que vou tentar algo diferente.”
Nós “esquecemos” que tudo precisa ser experimentado e testado. Adaptado a nós. Essa forma de estudar, essa forma de trabalhar, essa forma de maternar, essa forma de pensar etc.
Alguma forma diferente reduz a sua ansiedade? Vamos descobrir.
Perceber essas sombras e complexos é o primeiro passo para nossa transformação. A partir daí conseguimos equilibrar nossas vidas interiores, e então começamos a equilibrar o mundo.
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