Uma dúvida que recebo bastante é como fazer quando se vê querendo mudar um padrão, ou sair de uma determinada situação que não faz bem, mas não conseguir.
Por exemplo, digamos que Maricotinha precisa mudar a forma como se relaciona com a família. O pai, a mãe, o irmão, a tia e por aí vai, são muito invasivos. Vivem se metendo na vida dela, dão pitaco não solicitado, fazem “críticas construtivas”, e ela sente que isso a exaure.
Aí Maricotinha viu uns textos aqui no blog, ouviu falar de um tal corte energético, e decidiu tentar fazer uma mudança. Até conseguiu dizer não para um pedido da mãe que ela sabia que ia lhe fazer mal. Mas depois de uns dias se sentiu culpada e se viu repetindo os mesmos padrões de antes.
Daí Maricotinha chega para mim e fala: “Fran, eu já tentei de tudo quanto é jeito mudar esse padrão, mas não consigo. O que eu faço?”
Nós já vimos por aqui como contar com a ajuda da neuroplasticidade para mudar padrões. Mas também sabemos que determinadas situações funcionam como “nós” na nossa vida. E acabamos sempre nos enroscando neles.
Penso nesses nós como aqueles pontos na estrada em que o trânsito para. Não anda, não flui.
E esses nós se apresentam para nós de muitas formas. Pode ser a forma de se relacionar com a família. Ou, quem sabe, seja um emprego que você não se identifica mais. Escassez total. Você quer fazer uma transição de carreira, algo grande. Como você vai saber se vai dar certo? Ou se é uma grande “burrada”?
Nessas horas, precisamos fazer uma leitura simbólica. Ou seja, identificar o nó.
Veja que incrível: se aquele emprego/lugar de vida está gerando escassez porque você está EMPACADO nesse nó interno (sei lá, digamos que é a sua insegurança, a sua dificuldade de acreditar mais em si mesmo), sair de lá com a consciência que quer sair daquela escassez é uma maravilhosa ruptura de padrão.
O segredo, para romper um padrão, é tomar uma atitude concreta e interior ao mesmo tempo.
Só tomar uma atitude interna não é o suficiente. Exemplo: “vou me comprometer comigo mesmo para não permitir que a minha insegurança domine minha vida” e não fazer mais nada.
Por outro lado, se você tomar apenas a atitude concreta (exemplo: pedir demissão) sem consciência de que há um padrão interno ali, só faz com que esse material se repita, em outro lugar.
É isso o que os antigos chamavam de ritual: quando você toma uma atitude concreta tendo por trás uma intenção e uma determinação muito específicas.
Então vamos supor que você decidiu sair daquele emprego. Simplesmente não dá mais para você. Mas você vai fazer mais do que isso: vai transformar aquele momento num ritual. Vai mentalizar que, junto com o emprego, você encerra aquele padrão de insegurança.
Isso envolve consciência. Quanto mais você tem percepção de qual exatamente é o problema que te deixa amarrado naquela zica, mais precioso e poderoso é o seu ritual. E também envolve coragem – o famoso Ato de Fé.
Nós temos uma dificuldade incrível de fazer isso, porque nos acostumamos demais à ideia de que o mundo interior/mental e o mundo material não conversam entre si.
Mas o mais doido é que ao romper o padrão com consciência, as experiências/pessoas diferentes vão surgir. Você não precisa ir atrás de nada – nada além de ser exatamente o que é.
Essa é uma das coisas da vida mais marcantes. Quando você vê, uma pessoa X se afasta. Um caminho profissional se fecha. E outras pessoas surgem, outros caminhos se abrem. A vida se reorganiza de acordo com a sua consciência.
A vida é MUITO dinâmica. Há momentos em que tudo está se desmilinguindo. E há momentos em que as coisas estão se formando.
Aqui, pode surgir uma pergunta muito interessante. Esses padrões se repetem porque somos predestinados a determinadas coisas? Ou podemos mudar a realidade em que vivemos a qualquer tempo?
Eu, pessoalmente, acredito totalmente no livre-arbítrio. Não vejo muita lógica em estar aqui nesse mundo se é para seguir um roteiro. Mas…
Todos nós não viveremos os mesmos desafios. Cada jornada tem pontos únicos. Cada um tem seu calcanhar de Aquiles. Para mim, pode ser a questão afetiva. A Joana pode ter uma questão com a mãe. O Luís pode estar sempre às voltas com questões de saúde.
Nós escolhemos essas questões? Não. Mas elas se apresentam como cruciais na nossa jornada e no nosso aprendizado.
Agora, COMO eu, Joana e Luís lidamos com tudo isso é que é determinante.
Nós podemos ver como uma dança. E, assim como na dança, há movimentos que são nossos. E movimentos que são além de nós. Mas isso é muito diferente de algo pré-determinado. Podemos dançar de muitas formas e muitos ritmos.
Esses desafios se apresentam nas nossas vidas de acordo com o que precisamos aprender. E enquanto não lidamos com aquilo, o desafio vai continuar se apresentando e apresentando.
Ou seja, até tomarmos consciência de que aquele padrão está em ação e que ele precisa ser trabalhado, ele vai insistir em colocar pessoas e situações na nossa vida para termos a oportunidade de finalmente agirmos nesse padrão.
É como um gps: nós até podemos mudar o caminho, sair da rota indicada no aplicativo, mas no final chegaremos ao mesmo destino. E é impressionante de ver: se há o desafio X para ser vivido, ele será vivido até que a lição seja aprendida.
Vou dar um exemplo simples: imagine que Marilu tem uma grande dificuldade em se impor. No seu primeiro emprego, ela teve, veja só, um chefe cretino. Só que chefe cretino + Marilu com essa insegurança toda, não dá bom, né?
Resultado: Marilu largou o emprego. E arrumou outro. Mas aí, lá pelas tantas, a chefia mudou, e lá está de novo Marilu com um chefe tão cretino quanto o primeiro.
Estamos de acordo que se Marilu largar tudo de novo e arrumar outro emprego, a chance de o chefe cretino “reaparecer” é considerável?
Pois é. Faz parte do Eixo de Vida de Marilu. Ela pode ir pro Oiapoque ou pro Chuí. Essa figura vai aparecer e aparecer. Até, claro, Marilu encher o saco e falar para esse chefe que ela não vai mais tolerar cretinices.
Aí sim. O “nó” de vida se solta, e é muito provável que os chefes seguintes sejam muito boa pessoa.
Pode ser que Marilu fale isso literalmente pro chefe. Pode ser que não. Nessas horas, isso é o que menos importa. O que importa é ela cair fora do padrão.
Ou seja, quando nós tomamos consciência de um padrão que precisa ser mudado, e juntamos a mudança do mundo interno com a mudança do mundo concreto, esse mundo que a gente vê e toca, um poderoso ritual acontece e o padrão finalmente é rompido.
E então nos reconectamos a toda uma sabedoria interna que muitas vezes perdemos no caminho.