Todos nós já nos deparamos com uma ou outra autossabotagem na vida. Seja não conseguir ter disciplina no que realmente importa, adiar coisas importantes e deixar para depois, duvidar das próprias habilidades, causar problemas em relacionamentos, não estabelecer limites saudáveis e por aí vai.
Esses são exemplos de autossabotagem que a maioria conhece. Agora, um sintoma físico pode representar um tipo de autossabotagem, medo de desafios? O sintoma pode ser uma forma de nos limitar?
Para ajudar a entender melhor, olha esse relato que eu recebi há um tempo no Instagram:
“Eu estou numa fase de ultrapower sabotagem, e os sintomas estão em um nível altíssimo. Uma hora a coluna travou, e fiquei sem andar. Antes de melhorar 100%, levei uma queda e fiquei mancando por mais de 10 dias. Daí, antes de me recuperar totalmente, peguei uma gripe pesadíssima… Agora estou boa e orando para entender as mensagens do universo. “Não corre. Para. Olha para dentro.” Mas e a prova do concurso dos meus sonhos?”
Primeiro, precisamos entender um pouco mais do que os sintomas querem nos dizer. Na grande maioria das vezes, ele está te falando sobre uma atitude sua. Por exemplo, será que a seguidora do relato acima não estava levando aquele concurso de um jeito muito “hard”?
Porque veja, dentre milhares de sintomas, olha o que aconteceu com ela: a coluna travou, dor nas costas. Ficou sem andar. Levou uma queda. Como se ela estivesse carregando um peso grande demais. Por isso precisamos perceber a linguagem do sintoma.
Ou seja, o sintoma, nesse caso da seguidora, não estava impedindo-a de fazer a prova. Estava avisando-a de que ela estava encarando a situação com um peso desmedido. E isso poderia atrapalhá-la.
Aliás, quantas vezes nós não encaramos certos desafios que se apresentam para nós com um peso maior do que eles realmente têm? E aí os sintomas vêm para isso, são aquele sinal de alerta: “opa, atenção aqui”.
Mas o que fazer depois que se reconhece os sabotadores? Só identificá-los é o suficiente para pôr fim neles? Por exemplo, simplesmente pensar que “sou livre e posso mudar” pode ser algo muito distante e sem efeito prático, porque são anos vivendo aquilo.
E agora, só saber que os sabotadores existem é o suficiente? Tomar consciência deles é TODO trabalho a ser feito, aí acabou, ponto, fim? Nada disso. Pelo contrário, aí é que o trabalho de verdade começa.
Acontece que… sem essa etapa inicial, nem tem trabalho. Não acontece nada.
Eu gosto de encarar isso com uma empresa que decreta falência (bom, não é tão diferente quando estamos levando “a pior” com os nossos sabotadores, né?).
Vamos lá, como funciona isso no Direito? Quando uma empresa enfrenta problemas financeiros sérios e não pode pagar suas dívidas, ela pode iniciar na justiça o processo de falência.
Mas antes de o juiz decretar a falência e os bens serem vendidos para pagar os credores, encerrando oficialmente as atividades, a empresa pode tentar se reerguer financeiramente e pedir a recuperação judicial.
Nesse momento, a empresa faz um plano de recuperação. E é com esse plano que a empresa tentará renegociar suas dívidas. Se não tiver um plano, nenhum juiz vai sequer querer saber de negociação.
Conosco, é a mesma coisa. Precisamos ter uma noção, por mais vaga que seja, de onde está a sabotagem. Para que, com isso, possamos elaborar um plano (ainda que pareça bobo) e começar a recuperação.
Porque veja, o cérebro, quando em crise, tem duas possibilidades de ação:
E como o cérebro se comporta em cada um desses cenários?
Cenário 1: cérebro com um plano.
“Hmm, preciso mudar minhas crenças, trabalhar esses sabotadores. Não sei ainda nem onde, nem como, mas sei que preciso.”
Qual o segredo aqui? Quando o cérebro enxerga uma “saída”, a neuroplasticidade pode ser ativada. O cérebro, aqui, está mais disposto a ROMPER com um padrão antigo, porque ele reconhece que não dá conta do desafio atual.
Cenário 2: cérebro em desespero.
Há uma ativação da ansiedade (modo de sobrevivência) que pode formar um ciclo vicioso. Aumenta ainda mais o desespero e a incapacidade de enxergar soluções. A coisa vira uma bola de neve e só fica pior.
Portanto, precisamos de um plano.
O que ajuda a “organizar” a bagunça nessas horas é não misturar o plano com o resultado prático. Porque um equívoco nosso que acontece muitas vezes é esperar que o plano tenha resultado imediato, senão ele “não serve”.
E aí, quando o jogo não muda na velocidade que a gente quer, vem a frustração, mais sabotagem… e voltamos para o ciclo vicioso do modo de sobrevivência.
Então, o que temos que ter em mente? Em primeiro lugar, trabalhar crenças. Em segundo lugar, trabalhar crenças. Em terceiro lugar, trabalhar crenças… Daí só lá pro vigésimo, trigésimo lugar, as consequências práticas começam a ficar evidentes.
Esse é o pulo do gato: o cérebro não tem como trabalhar em cima de uma realidade que não foi antes CRIADA e imaginada por você.
Nesse ponto, as diferenças surgirão em COMO trabalhar as crenças. A linha de terapia x tem um jeito de trabalhar. A técnica y terá outro jeito. A linha junguiana tem o “seu jeito”, que é procurando o material simbólico por trás.
Agora, o que TODAS têm em comum? Que as crenças e os padrões precisam ser mudados. Sem isso, não há resultado prático de nenhum tipo.
Ou seja, não basta mudar o pensamento em si. Precisa mudar a CRENÇA por trás dele. Por exemplo, “Sou lindo/a”. Mas você acredita de fato nisso? Não? Então é só um pensamento ao vento.
Resumindo, você primeiro precisa reconhecer os sabotadores (uma forma de fazer isso é identificar quando a energia sai do seu interior e é depositada no exterior – em expectativas, sentimentos, pessoas etc).
Depois você traça um plano (e não, não precisa ser super complexo, nada disso). Então passa a mudar suas crenças. E aí sim começa o trabalho de verdade.
Você está depositando muita energia “lá fora”? As expectativas e autocobranças estão dando as caras? A sua atitude diante daquela situação está inadequada? Então agora é hora de arregaçar as mangas e partir para a prática.